Habilidade de lidar com sentimentos e respeitar diferentes interpretações é essencial para uma comunicação eficaz
Reinaldo Polito Publicado em 12/12/2025, às 11h30
Podemos estar equivocados, mesmo quando acreditamos ter razão
O que nos falta, muitas vezes, é entendimento, causado por problemas de comunicação. Uma pessoa diz uma coisa, a outra entende diferente. Ambas podem estar certas. E ambas podem estar erradas. Não há culpados em uma conversa onde o entendimento não é estabelecido. Num primeiro momento não há como apontar o erro, mas depois a culpa recai sobre alguém.
O mais curioso nessa situação é que todos podem ter razão. O processo de comunicação é muito mais complexo do que simplesmente a combinação de palavras e frases. Por isso, cada um imagina estar certo.
O processo da recepção
Quando alguém fala, utiliza palavras e conceitos que são fruto de sua formação, conhecimento e experiências. Isso é especialmente verdadeiro quando o texto revela a intenção do autor. A interpretação do leitor é um processo de construção de sentido que depende do seu repertório, do seu conhecimento, do que pode ser entendido e das possibilidades de interpretação.
Críticas e elogios sobre o mesmo assunto
Há pouco tempo, por exemplo, fiz uma análise técnica da comunicação de Lula. Mostrei como ele construiu e expôs a mensagem, como usou as palavras, como organizou a informação e como estruturou a mensagem. Uma pessoa comentou que eu estava defendendo o político. Outra disse que eu estava criticando. E ambas estavam certas, porque cada uma interpretou a mensagem a partir de seu repertório. Cada uma dessas pessoas produziu mensagens diferentes.
Razão e sentimentos
Por isso, em minhas palestras, quando um assunto mexe com os sentimentos das pessoas, tomo o cuidado de deixá-lo de quarentena e não causar frustrações. O simples fato de querer convencer o outro pode provocar reações inesperadas. O respeito traz envolvimento objetivo com as pessoas e com a situação.
Nem sempre estamos certos, mesmo quando temos razão. Transpondo para o lado pessoal, como disse Nelson Rodrigues, pretender a adesão de todos os leitores seria imaginá-los desprovidos de capacidade de compreensão, já que a unanimidade é burra. A habilidade de lidar com os sentimentos das pessoas não está ligada apenas à razão.
Na peça O Casamento de Fígaro, Beaumarchais afirma: “Provar que temos razão seria reconhecer que não a temos”. A frase é um exemplo de como a razão pode ser usada de forma equivocada. A razão, por si só, não é suficiente para convencer. É preciso usá-la com sabedoria e sensibilidade. A comunicação eficaz depende da habilidade de entender e respeitar os sentimentos dos outros.
Os ingredientes da comunicação oral
No caso da comunicação oral, o processo possui outros elementos além das palavras. A aparência física, o tom de voz, a expressão facial, os gestos, a maneira de se vestir e os objetos que as cercam influenciam diretamente. Esses ingredientes provocam reações específicas de acordo com o ambiente, a iluminação, os sons e até os odores. Cada situação gera respostas diferentes.
Portanto, quando nos comunicamos, podemos estar certos ou errados, ainda que nossas palavras estejam corretas. Isso acontece porque o sistema de comunicação não se baseia apenas no que dizemos, mas também no que inferimos que dissemos. Cercar todas as possibilidades é praticamente impossível. Mas observar constantemente os ingredientes que compõem nossas expectativas e as dos outros pode reduzir bastante o risco de equívocos.