Cultura

Tarcísio finalmente sai das sombras e fala como candidato à Presidência

Com quase 70% de aprovação, Tarcísio se posiciona estrategicamente no cenário político, evitando compromissos prematuros

Governador de São Paulo mantém lealdade a Bolsonaro e evita protagonismo, mas pesquisas o colocam em destaque - Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo

Reinaldo Polito Publicado em 15/08/2025, às 11h38

Tarcísio talvez seja o mais fiel dos fiéis seguidores de Jair Bolsonaro. Em nenhum momento demonstrou sinais de buscar protagonismo no cenário nacional. Todas as vezes em que foi perguntado se era candidato, respondeu com firmeza que seu objetivo é cumprir bem seu papel como governador de São Paulo.

Mesmo declarando que não será candidato à Presidência em 2026, as pesquisas mostram empate técnico no segundo turno entre ele e Lula. Esses levantamentos precoces podem não indicar o que realmente irá acontecer, mas funcionam como uma fotografia do momento, que cacifa o governador paulista a almejar o Palácio do Planalto.

Um governador bem-avaliado

Sua gestão à frente do Palácio dos Bandeirantes é aprovada por quase 70% dos paulistas, um índice extremamente elevado, que o credencia a concorrer ao cargo que desejar. Nunca, entretanto, revela sua intenção de disputar a Presidência. Essa atitude é bastante estratégica.

Primeiro, por fidelidade a Bolsonaro, seu padrinho político, que lhe estendeu a mão para que se candidatasse ao cargo que hoje ocupa. Por isso, repete que o candidato deve ser o ex-presidente. Ainda que Bolsonaro esteja inelegível no momento, a política é dinâmica e esse quadro, embora difícil, pode ser revertido.

Há tempo para decidir

Depois, porque provavelmente aprendeu com os exemplos negativos de outros governadores, como José Serra e João Doria. Os eleitores não gostaram de vê-los abreviando o mandato para concorrer à Presidência. Viram nessa atitude a utilização do cargo de governador como trampolim político para chegar ao Planalto.

Portanto, revelar agora que sua intenção é essa poderia fazer Tarcísio perder a admiração que conquistou ao longo dos últimos anos. Ele tem até o começo do ano eleitoral para decidir. Até lá, muitas reviravoltas poderão ocorrer. Sem se comprometer, manterá condições de optar pelo futuro mais conveniente para sua carreira.

Um discurso veemente

Um fato, porém, revelou que o governador paulista já está com um pé no palanque que o levaria a vestir a faixa presidencial. Em evento realizado nesta quarta-feira, 13 de agosto, pelo banco BTG Pactual, ao lado de outros governadores, foi veemente nas críticas ao governo de Lula. Com palavras duras, demonstrou que poderá ser um forte adversário do petista.

Fez uso da anáfora, figura de linguagem que consiste em iniciar frases diferentes com as mesmas palavras, para construir seu discurso. Esse recurso permitiu que desse ênfase contundente a cada repetição:

“A gente está perdendo alguns bondes: o bonde da tecnologia energética, o bonde da bioeconomia, o bonde do conhecimento. O mundo está de portas abertas para o Brasil e a gente andando aqui numa ciranda e discutindo picuinha.”

Oponente de Lula e do PT

Em seguida, com palavras medidas e certeiras, comportou-se como se estivesse mesmo em campanha, falando com os eleitores. Foi uma espécie de sinalização para revelar, sem dizer, que estará pronto para enfrentar desafios mais elevados se a população assim o desejar. Mais uma vez, a anáfora esteve presente na sua retórica:

“Nós estamos há 40 anos discutindo a mesma pessoa. O Brasil não aguenta mais excesso de gasto. O Brasil não aguenta mais, não tolera mais aumento de imposto. O Brasil não aguenta mais corrupção. O Brasil não aguenta mais o PT. O Brasil não aguenta mais o Lula.”

Conquistou mais eleitores

Dá para imaginar como essas palavras balançaram os governadores presentes, alguns já declarados pré-candidatos à Presidência. Mesmo que o tom tenha sido de campanha, ninguém poderá afirmar que ele se expressou como candidato.

O discurso de Tarcísio foi importante para deixar claro em que lado ele se situa politicamente e quais causas defende. Em poucas palavras, disse o que boa parte dos brasileiros gostaria de ouvir. É bem provável que, depois desse pronunciamento, tenha conquistado novos seguidores.

Se Bolsonaro continuar inelegível, provavelmente indicará Tarcísio para concorrer à Presidência. E esse apoio poderá ser fundamental para sua vitória. Há especulações de que Michelle Bolsonaro, bem-posicionada nas pesquisas, possa ser candidata. Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente, também é mencionado como possível candidato.

O mais certo, como dizia um querido professor na Faculdade de Ciências Econômicas, é que, ceteris paribus, isto é, se tudo permanecer como está, Michelle e Eduardo concorreriam ao Senado e Tarcísio avançaria rumo ao Planalto. Caiado e Ratinho Jr., pelas pesquisas atuais, embora sejam bons candidatos, devem ter de esperar um pouco mais ou, provavelmente, concorrer mesmo sem muita chance de vitória. O ringue está montado. Que venham os contendores. Siga pelo Instagram: @polito

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