Dom da fala

O melhor encerramento para um discurso

Há situações em que certas atitudes consideradas desaconselháveis podem ser adequadas

Ainda que seu discurso tenha sido planejado em todos os detalhes, o fato de se valer de informações nascidas ali diante dos ouvintes dará a impressão de que toda a mensagem também foi produzida no momento da apresentação - Imagem: Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 28/07/2023, às 10h09

Uma boa conclusão não salva uma apresentação ruim, mas um péssimo encerramento pode prejudicar um bom discurso.

Por isso, é preciso saber o que deve ser evitado e o que é recomendável para concluir uma exposição.

Observe o cuidado com os termos sugeridos, “evitado” e “recomendável”. Há situações em que certas atitudes consideradas desaconselháveis podem ser adequadas. Da mesma forma, há circunstâncias em que recursos indicados como bons para concluir acabam por não se mostrar eficientes.

Era tudo o que tinha para dizer

Por exemplo, de maneira geral, o orador não deveria encerrar com expressões como “era isso o que eu tinha para dizer, muito obrigado”, ou “era tudo o que eu tinha para informar”. Essas conclusões, na maior parte das vezes, são vazias, inconsistentes e não contribuem para que os ouvintes reflitam ou ajam de acordo com as propostas da mensagem. Em determinadas ocasiões, entretanto, quando o orador tem por objetivo deixar claro que suas recomendações são definitivas e de que não haveria possibilidade de objeções, ao dizer “e isso era tudo o que precisava ser dito” estará se valendo de um recurso apropriado. Temos de levar em conta que esses são momentos excepcionais.

Encerrar não é muito simples. Há oradores que têm dificuldade para pôr ponto final em seus discursos. Perdem várias oportunidades para concluir. Insistem em repetir o que já haviam transmitido, até mais de uma vez, e deixam de aproveitar o melhor momento para fazer o encerramento.

Carlos Lacerda

Dizem que Carlos Lacerda, considerado um dos mais brilhantes oradores da história política do país, comentava que só iria se considerar um bom orador no dia em que aprendesse a encerrar seus discursos. Provavelmente, ele brincava com esse tema. Talvez quisesse alertar para o fato de que, diante do microfone, ele se empolgava e, até por vaidade, continuava falando além do limite desejável.

Esse é um defeito em muitas pessoas que falam em público. Animados pela boa reação dos ouvintes, se entusiasmam com as próprias palavras e não concluem. Alguns palestrantes não obedecem ao tempo determinado para suas apresentações, invadem o horário daqueles que se apresentariam a seguir e prejudicam o andamento do evento.

Conclusões que funcionam

Normalmente é possível concluir pedindo ao público que reflita ou aja de acordo com as propostas desenvolvidas. São formas que podem ser aplicadas em quase todas as situações.
Além desse recurso, há outro que pode ser aplicado na maioria das apresentações. Lançar mão da essência da mensagem transmitida e repeti-la em duas ou três frases na conclusão.

A entonação da voz

Em todos os casos, pedindo a reflexão ou a ação dos ouvintes, ou repetindo de forma resumida o conteúdo da fala, um fator fundamental para o sucesso da conclusão é a entonação de voz. Há pessoas que até se valem de informações consistentes, mas encerram como se tivessem algo mais a transmitir. Colocam uma espécie de vírgula no lugar do ponto. Como não havia mais nada a informar, apelam para o “era isso o que tinha para dizer”.
São duas maneiras recomendadas para encerrar quanto à entonação: uma, aumentando o volume da voz e a velocidade da fala; outra, ao contrário, diminuindo o volume e a velocidade. A primeira é usada normalmente quando o orador deseja concluir arrebatando a plateia para que as pessoas ajam em certa direção. A última, nas situações em que é pedido para que elas reflitam sobre os pontos abordados no discurso.

Expressões que ajudam

Se, por acaso, sentir que o final foi inconsistente, que a entonação não foi adequada para demonstrar que o discurso havia encerrado, algumas palavras e expressões ajudam bastante a rearrumar a conclusão: “portanto”, “assim sendo”, “com isso”, “assim eu espero que”. Esse recurso permite que o orador retome o controle da apresentação e faça um final mais adequado.

Conta-se que ao perguntarem a Winston Churchill como ele preparava seus discursos, sua resposta foi curta e direta: preparo o início e o final. É evidente que não poderia faltar o questionamento complementar: e no meio? Mais uma vez seus esclarecimentos foram contundentes: bem, no meio eu vou falando.

O final deve ser preparado

Folclore à parte, é importante saber que o orador deve ter uma boa ideia de como pretende encerrar sua apresentação. Os mais traquejados, com boa quilometragem de palco, até deixam para decidir já diante do público. Aproveitam os acontecimentos do ambiente para incluir na conclusão. Ainda que seu discurso tenha sido planejado em todos os detalhes, o fato de se valer de informações nascidas ali diante dos ouvintes dará a impressão de que toda a mensagem também foi produzida no momento da apresentação. De todas as etapas, o final é o momento mais apropriado para o uso da emoção. É o instante em que os ouvintes já foram envolvidos pelos argumentos do orador e estão receptivos às mensagens que toquem seus sentimentos.

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação e Gestão corporativa na ECA-USP. Escreveu 34 livros, com mais 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/

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