A gafe é democrática - não privilegia sexo, condição financeira ou posição social
por Reinaldo Polito
Publicado em 13/09/2024, às 12h14
Você fica envergonhado só de pensar em uma gafe que cometeu há muitos anos? Quando pensa que o assunto já foi sepultado, surge um fato que se transforma em gatilho para associação de ideias que o fazem relembrar aquele momento tão constrangedor. Tenho uma boa notícia: ninguém além de você sabe o que aconteceu.
Por isso, não tem do que se envergonhar. É um segredo seu que não precisa ser compartilhado. Todos nós já demos uma escorregada em algum momento. Que atire a primeira pedra quem nunca deu uma vacilada na vida. Só para mencionar as gafes mais comuns:
Perguntar se uma mulher está grávida quando, na verdade, só está gorda. Comentar que o pai é parecido com a filha, quando, na realidade, ela é a esposa ou a namorada. Chamar a pessoa pelo nome errado. Bater nas costas de uma pessoa estranha imaginando tratar-se de um amigo, ou pessoa conhecida. O repertório pode ser largo, com direito a constrangimento e tudo mais.
Os famosos sofrem mais
A gafe é democrática - não privilegia sexo, condição financeira ou posição social. Apesar de estar presente na vida de qualquer pessoa, as mais poderosas, que gozam de situação privilegiada, são as que mais sofrem publicamente com os deslizes que cometem. Quando nós, “pessoas normais”, fazemos o que não deveríamos fazer, quase sempre o fato se encerra por si só.
Entre os membros da elite, o erro toma proporções maiores. Se um desses figurões errar o nome do visitante ou do anfitrião, corre o risco de o episódio parar nas páginas de fofoca. A situação piorou com a proliferação das mídias sociais. Em segundos, a notícia corre como fogo em graveto seco.
Durante meses ou até anos, a informação continua perambulando pelas plataformas, sem que ninguém possa fazer nada. Assim que novos dados sobre a pessoa aparecem, os antigos vão passando para um segundo plano, mas continuam lá atormentando a vida da vítima.
Seria possível citar inúmeros acontecimentos recentes, como, por exemplo, o de Biden ao ler um discurso e incluindo as observações de seus assessores: “É notável que a proporção de mulheres registradas para votar é consistentemente maior que a proporção de homens que fazem o mesmo. Fim da citação. Repita a frase.”
Mas como o objetivo é mostrar que os casos antigos não desaparecem, vamos relembrar alguns dos mais famosos que vira e mexe voltam à cena das gafes. Parece que são perpétuos.
Lula, vítima de uma gafe
Até hoje, alguns se lembram de quando Lula, assim que tomou posse como presidente, logo em seguida, em 15 de janeiro de 2003, participou da posse do presidente do Equador, Lucio Gutiérrez. Ao anunciarem a presença do presidente brasileiro, o mestre de cerimônia se referiu a ele como José Inácio Lula da Silva. E como desgraça pouca é bobagem, mais adiante voltou a chamá-lo de José.
Lula permaneceu quieto, mas demonstrou sua desaprovação balançando a cabeça, moderadamente na primeira vez e com certa irritação na segunda. Não foi mesmo a recepção que ele gostaria de ter.
Bem, se Lula foi vítima dessa gafe, também não perdeu a oportunidade de fazer das suas.
Lula e suas próprias gafes
Uma das mais conhecidas ocorreu em sua visita aos países africanos. Ao improvisar um discurso em Windhoek, capital da Namíbia, disse que não esperava encontrar na África uma cidade tão limpa como aquela. E não parou por aí. Complementou afirmando que não parecia estar num país africano. Como eu disse, a gafe é democrática.
E por falar em democracia, os americanos têm fama de não serem muito bons de geografia. E não é que tivemos um exemplo perfeito desse desconhecimento aqui no Brasil! Em 1983, quando Ronald Reagan visitou o nosso país, ao homenagear os brasileiros com um brinde, no Palácio do Itamaraty, desejou “saúde ao povo da Bolívia”.
Casos de Fernando Henrique
Outra gafe monumental foi protagonizada pelo presidente francês, Jacques Chirac. Ao cumprimentar o presidente Fernando Henrique Cardoso, destacou-o como presidente do México.
FHC também não deixou por menos. Em 1999 referiu-se aos bolivianos como sendo peruanos. E o Peru volta novamente às manchetes. Ao se despedir em Lima de uma plateia com cerca de 15 mil pessoas, a cantora Alanis Morissette disse: “thank you, Brazil”.
Nenhum desses que foram citados, entretanto, se compara ao rei das gafes, o presidente americano George W. Bush. Ele falou tanta besteira que logo nos primeiros meses de governo publicaram um livro com as suas pérolas: “Bushismos”. Só para lembrar algumas de suas frases que se tornaram célebres:
“Os Estados Unidos estão importando cada vez mais do exterior”. “Não tenho dúvida de que fracassaremos. O fracasso não faz parte do nosso vocabulário”. Esses são apenas alguns exemplos. Se você tiver curiosidade, o livro está por aí com uma infinidade de frases para a sua diversão.
Como eu disse, esses são os famosos que mesmo depois de muito tempo ainda são lembrados por suas trapalhadas. Nós aqui, no quase anonimato, dificilmente corremos o risco de sermos perpetuados pelas nossas gafes. São apenas as vergonhas que teimam em ficar azucrinando a nossa cabeça.
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