O modelo foi feito por pesquisadores da USP a partir de imagens do desastre de 2013
Maria Clara Campanini Publicado em 25/09/2024, às 13h45
Um levantamento detalhado realizado por pesquisadores dos Institutos de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP) identificou aproximadamente mil pontos de escorregamento de solo na cidade de São Sebastião, localizada no litoral norte de São Paulo. Este estudo foi conduzido a partir de imagens aéreas capturadas logo após o desastre climático ocorrido em fevereiro de 2013, que resultou na morte de 64 pessoas devido às fortes chuvas.
Publicado no Brazilian Journal of Geology e disponibilizado no repositório Zenodo, que promove o acesso aberto a dados científicos, o inventário mapeou detalhadamente os pontos de deslizamento. Em entrevista à Agência Brasil, Carlos Henrique Grohmann, coordenador do projeto e professor do IAG/USP, destacou a importância desse mapeamento para a formulação de políticas públicas eficazes. Segundo Grohmann, embora muitos deslizamentos tenham ocorrido fora das áreas urbanas, identificar esses pontos é crucial para mitigar futuros riscos.
Grohmann explicou que a precipitação anômala registrada em fevereiro do ano passado atingiu 683 milímetros em menos de 15 horas, um volume equivalente à metade da expectativa para todo o verão. Esse fenômeno extremo sobrecarregou o solo, resultando em numerosos deslizamentos tanto em áreas urbanas quanto rurais. "A maior parte dos escorregamentos ocorreu fora das zonas habitadas, o que minimizou os danos humanos diretos ". afirmou Grohmann.
Os processos geológicos como deslizamentos são comuns em regiões montanhosas com clima tropical, como a Serra do Mar, onde se encontra São Sebastião. A alta declividade dos morros combinada com chuvas intensas aumenta significativamente o risco de deslizamentos. "Entender onde esses eventos podem ocorrer é fundamental para o planejamento urbano e a implementação de políticas públicas ". ressaltou o pesquisador.
O projeto da USP visa agora mapear as áreas naturais suscetíveis a deslizamentos que ainda não foram completamente estudadas. Grohmann destacou que as áreas urbanas já são bem conhecidas e classificadas como zonas de risco. No entanto, é essencial identificar também as áreas naturais que possam apresentar perigo futuro.
Graças a uma parceria com o Instituto Geográfico e Cartográfico de São Paulo (IGC-SP) e apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), novas tecnologias estão sendo empregadas para aumentar a precisão do mapeamento. Utilizando Light Detection and Ranging (LiDAR), uma tecnologia que utiliza laser pulsado para medir distâncias da superfície terrestre com alta precisão, os pesquisadores poderão criar modelos topográficos detalhados da região.
Essa tecnologia permitirá um nível inédito de detalhe na análise do relevo local. "Com essa ferramenta, conseguiremos visualizar a topografia com resolução muito superior à anterior," comentou Grohmann. Isso facilitará a criação de modelos preditivos mais precisos, aplicáveis também a outras áreas da Serra do Mar.
Em 2018, um levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) apontou que São Sebastião possuía cerca de 2,2 mil residências em 21 áreas classificadas como zonas de risco. Após a tragédia climática recente, esse mapeamento está sendo atualizado pela prefeitura em colaboração com o IPT.
A administração municipal reafirmou seu compromisso com a segurança dos moradores por meio de diversas iniciativas preventivas e educativas. Entre as ações destacadas estão simulados realizados pela Defesa Civil em áreas vulneráveis e investimentos significativos na recuperação das regiões afetadas pelo desastre climático.
Adicionalmente, parcerias com os governos estadual e federal possibilitaram a implantação de sirenes em bairros críticos e estações meteorológicas para melhorar as previsões climáticas locais. A prefeitura também lançou programas educativos nas escolas para conscientizar as crianças sobre riscos ambientais e medidas preventivas.
Essas medidas visam fortalecer a resiliência da comunidade contra futuros eventos climáticos extremos e assegurar uma resposta rápida e eficaz em situações emergenciais.
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