Desde sua inauguração em 1911, o Theatro Municipal passou por transformações que equilibram tradição e inovação na arte
Reinaldo Polito Publicado em 12/09/2025, às 13h10
Neste 12 de setembro, o Theatro Municipal de São Paulo celebra 114 anos de existência. Foi exatamente em 12 de setembro de 1911 que se inaugurou aquele que se tornaria um dos maiores símbolos culturais do país.
Desde então, atravessou períodos de exuberância e fases de esquecimento, passando por sucessivas reformas que sempre buscaram o equilíbrio entre preservação e adaptação. Cada restauração teve o cuidado de manter a memória viva, garantindo que a grandiosidade original convivesse com a modernidade.
A presença marcante de Maria Callas
Entre tantos episódios marcantes, um se destaca no memorável 16 de setembro de 1951. A sociedade paulistana aguardava com expectativa febril a noite em que Maria Callas, a soprano que redefiniu a ópera no século XX, subiria ao palco.
Foi uma apresentação histórica. Sob a regência de seu mentor Tullio Serafin, Callas interpretou árias de Bellini, Verdi e Puccini com a dramaticidade que a tornaria lendária. Os que lotaram a plateia jamais esqueceram a emoção de testemunhar uma das maiores vozes do mundo em plena forma.
Artistas renomados
Mas a história do Municipal não se resume a Callas. O palco recebeu figuras que marcaram época: o tenor Enrico Caruso, a diva do jazz Ella Fitzgerald, a atriz Vivien Leigh e brasileiros como Heitor Villa-Lobos e João Gilberto, entre tantos outros. Cada um deixou um fragmento de sua arte nesse espaço, que se tornou um verdadeiro compêndio da história musical e cênica do último século em São Paulo.
Outro marco indelével foi a Semana de Arte Moderna de 1922. Em fevereiro daquele ano, o Theatro Municipal transformou-se no epicentro de uma revolução estética que rompia com o academicismo e celebrava a identidade nacional. Ali se apresentaram nomes que moldariam a arte brasileira: os escritores Mário e Oswald de Andrade, os pintores Anita Malfatti e Di Cavalcanti, o maestro Heitor Villa-Lobos, entre outros. O Modernismo brasileiro nasceu sob esse teto.
O projeto de construção
A trajetória do edifício começa em 1903, quando a elite cafeeira paulista, enriquecida e cosmopolita, decidiu que a cidade merecia um teatro à altura das grandes capitais europeias. Foram oito anos de obras lideradas pelo arquiteto Ramos de Azevedo em parceria com os italianos Cláudio e Domiziano Rossi.
O projeto dialogava diretamente com a Belle Époque, período de otimismo e efervescência cultural que marcou a Primeira República brasileira (1889-1930). A São Paulo do café queria afirmar-se como metrópole moderna, e o teatro se tornou seu cartão de visita.
Modelo de inspiração
A influência dessa época pode ser percebida em cada detalhe. Inspirado na Ópera de Paris, o Municipal ostenta colunas neoclássicas, vitrais coloridos, mosaicos refinados e uma escadaria monumental que impressiona pela imponência e pelo brilho dos mármores. Era o palco onde a aristocracia paulistana exibia seu gosto europeu, mas também o espaço que, com o tempo, acolheria uma arte cada vez mais brasileira, misturando sofisticação e ousadia.
Com o transcorrer das décadas, o Theatro passou por reformas essenciais. A primeira grande restauração, em 1980, devolveu-lhe a sonoridade original e modernizou a estrutura. Em 2011, ano de seu centenário, nova intervenção trouxe recursos de acústica e iluminação de padrão internacional, preparando-o para as exigências de uma programação contemporânea.
Um teatro com história, mas sempre atual
Atualmente abriga a Orquestra Sinfônica Municipal, o Balé da Cidade e companhias de ópera e dança do mundo inteiro, reafirmando-se como polo cultural que não vive apenas do passado, mas respira o presente e projeta o futuro.
Visitar hoje o Theatro Municipal é vivenciar essa síntese de tradição e modernidade.
O visitante se deslumbra com a escadaria, com o dourado dos frisos, com os camarotes preservados. É impossível permanecer indiferente à grandiosidade do edifício, que continua a ser referência de beleza e cultura para as novas gerações.
Ao celebrar 114 anos, o Theatro Municipal de São Paulo reafirma sua relevância como centro cultural. Mais do que um marco arquitetônico, é um espaço vivo, onde a história se reinventa e a tradição se transforma em expressão atual.” Siga pelo Instagram: @polito