Cultura

Você prefere receber elogio falso ou crítica verdadeira?

Entenda como as pessoas reagem às críticas e o impacto emocional que elas podem causar

Foto: Freepik/ Bons Fluidos
Foto: Freepik/ Bons Fluidos
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 28/11/2025, às 11h21


Você costuma criticar as pessoas? E como elas reagem? Agradecem e dizem que vão mudar de comportamento? Ou começam a se justificar, tentando mostrar que o erro foi por acaso, que normalmente se comportam de forma diferente, que a intenção foi distinta da que pareceu ser à primeira vista?

Não temos noção de seus infortúnios, das suas derrotas, dos seus momentos de angústia e de sofrimento. Se não conhecemos nem a nós mesmos, como havemos, pois, de conhecer ou julgar o próximo? Por isso, sem perceber, ao fazermos a crítica, ainda que seja bem-intencionada, podemos revirar um complexo mundo que a atormenta.

Podemos nos enganar

Eu me lembro do dia em que me surpreendi com a reação de um amigo muito querido. Ele é muito conhecido em todo o país. Acostumado a enfrentar plateias numerosas, sempre concedendo entrevistas para emissoras de rádio e televisão, tinha o perfil de quem estivesse traquejado para receber críticas e não se incomodasse com elas.

Certa vez, sugeri que, se ele mudasse determinadas ações, poderia ter resultado superior ao que estava obtendo. Nem poderia ser considerada uma crítica, pois eu só estava procurando ajudá-lo a partir da minha experiência. Estranhei o fato de ele ter ouvido sem dizer nenhuma palavra. Não concordou nem discordou.

Por termos um bom relacionamento, resolvi ser mais direto com ele. Perguntei como se estivesse afirmando:

– Você não é muito chegado a críticas, não é mesmo?
Sua resposta saiu como se fosse um lamento sofrido:

– Para ser sincero, não sou bom para aceitar críticas.

Quem pede crítica deseja elogio

Às vezes, por ingenuidade ou falta de experiência, caímos no canto da sereia e acreditamos que, quando alguém nos pede uma crítica, está querendo ser corrigido. Precisamos nos conscientizar de que, quase sempre, quem pede crítica está implorando por elogios. Quando não pedem, então, é muito pior.

Devemos tomar cuidado com todos os que nos cercam, seja no relacionamento com colegas de trabalho ou com parentes e amigos. É preciso pensar duas vezes, ou mais, antes de sair por aí dando conselhos ou fazendo críticas. Em vez de ajudar, podemos criar ressentimentos.

Cuidado com as críticas construtivas

Ah, e nada de achar que estamos acertando ao fazer críticas construtivas. É um equívoco. É crítica da mesma maneira. Provavelmente a pessoa sabe que errou, que não se comportou bem. Ao receber a crítica, ficará ainda mais chateada. Irá se sentir melhor se ninguém tocar no assunto.

Temos de observar também se não estamos fazendo o comentário por conta da nossa vaidade. Nem nós mesmos percebemos, mas, em determinadas circunstâncias, mais do que ajudar, estamos querendo mostrar conhecimento, preparo e experiência, e não percebemos que nossas palavras machucam e ferem os sentimentos de quem criticamos.

Nada de querer compensar

E mais, não se faz compensação com as críticas. Não vamos imaginar que, fazendo dois ou três elogios, teremos adquirido o direito de fazer uma crítica. A quantidade de elogios não diminui a agressão da crítica. Por isso, a não ser que seja muito necessário, se nossa intenção era fazer duas críticas e um elogio, talvez consigamos ajudar mais a pessoa se mudarmos a estratégia e, depois dos dois elogios, fizermos mais um elogio.

Lógico que, se alguém comete falhas graves, que poderão prejudicá-lo ou a outras pessoas, dependendo do envolvimento que possamos ter, torna-se quase uma obrigação alertá-lo e mostrar como o comportamento ou as atitudes dele estão equivocados. Se você observar bem, entretanto, irá constatar que essas situações são raras, pois, de maneira geral, as pessoas não se comportam mal com tanta frequência.

A diplomacia pede espaço

Temos de considerar também questões culturais. Os alemães, por exemplo, são mais diretos e assertivos no relacionamento e, por isso, devem estar mais acostumados com as críticas. Os latinos, como nós, brasileiros, somos mais sensíveis e, por esse motivo, temos o hábito de fazer rodeios, sem irmos diretamente ao ponto.

Se precisarmos mesmo fazer uma crítica, sejamos cuidadosos e usemos de toda a “diplomacia” que pudermos. Vamos imaginar que um colega de trabalho tenha o hábito de chegar atrasado. Em vez de criticá-lo diretamente e, provavelmente, deixá-lo magoado, poderíamos agir de forma mais sutil.

Criticar elogiando

Suponhamos que ele chegue no horário dois ou três dias seguidos. Nesse momento, como se fosse uma comemoração, poderíamos dizer que ficamos contentes em ver como ele conseguiu resolver a questão do horário. Dessa forma, sem fazer a crítica diretamente, iríamos alertá-lo para a existência do problema, provavelmente sem magoá-lo.

O custo pode ser maior que o benefício. Às vezes, corrigimos uma falha ínfima, que não vai alterar praticamente nada no comportamento da pessoa, mas o mal causado pela crítica pode afetar sua autoestima e atrapalhar muito mais do que ajudar. Siga pelo Instagram: @polito