Explore a adaptação de termos estrangeiros no português e como a língua decide o que se torna parte do cotidiano

por Reinaldo Polito
Publicado em 14/11/2025, às 10h16
Qual é a sua dor? Se alguém ouvir essa pergunta fora do contexto corporativo, imaginará que ela indaga sobre algum incômodo físico. Nos últimos tempos, entretanto, esse vocábulo ganhou novo sentido e passou a designar problemas, necessidades e dificuldades de clientes e públicos específicos.
Se veio para ficar ou não, só o tempo dirá. Vale observar como certas palavras e expressões surgem em nossa vida e como a língua reage a elas.
Desde o início do século passado, o português falado no Brasil conviveu com ondas de estrangeirismos. Nos primeiros tempos, quem ditava moda era o francês. Era o idioma da cultura, da literatura, da elegância urbana. Nossos escritores se inspiravam em Balzac e Zola. As famílias liam romances parisienses. A Academia Brasileira de Letras foi fundada sobre o modelo da Académie Française.
A chegada do futebol
Os paulistas também deram sua contribuição. Orgulhavam-se do Palácio dos Campos Elíseos, francesismo assumido. Não surpreende que palavras como chofer, abajur, paletó, nécessaire e garçom tenham entrado com naturalidade. A língua as recebeu como hóspedes frequentes, sem grandes estranhamentos.
Ao mesmo tempo, convivendo com essa influência sofisticada, o Brasil recebeu outra, imponente, mas mais ao nível da relva. O futebol, trazido por Charles Miller, chegou com um punhado de expressões inglesas. O goal, o corner, o goalkeeper, o hands e o center-half conviviam com o charme francês que dominava a elite urbana. Eram mundos distintos. O francês reinava nos salões. O inglês mandava no gramado.
Alguns termos ficam, outros somem
Com o passar do tempo, uns termos ficaram e outros desapareceram. O goal virou gol, o goalkeeper virou goleiro, o hands virou falta na mão, o center-half perdeu fôlego e deu lugar ao centro médio. Algumas palavras, como sutiã, derivada de soutien-gorge, não só se firmaram como deixaram de ser percebidas como estrangeiras. Foram abrasileiradas e hoje são tão nossas quanto qualquer termo nativo. A língua acolhe o que lhe cai bem e rejeita o que não lhe serve.
O mesmo mecanismo se repetiu em episódios mais recentes. Quando o Metrô de São Paulo foi inaugurado, discutiu-se se deveríamos chamá-lo de metro, sem acento, ou de metrô, seguindo o modelo francês. A decisão mais sábia foi não decidir. Deixaram que o povo escolhesse. E o povo escolheu metrô, por ser mais agradável ao ouvido. Hoje, se alguém disser metro, parece errado. A língua decidiu sozinha.
A tentativa do pronome neutro
Aconteceu algo semelhante quando surgiram tentativas de impor o pronome neutro em escolas e repartições. Houve resistência imediata. Muitos consideraram uma obrigação artificial, distante da estrutura do português, além do problema gramatical lembrado pelos especialistas ao explicar como o antigo neutro latino foi incorporado pelo masculino. A disputa continua, mas perdeu força. Poucas pessoas insistem no uso cotidiano. Pelo visto, não pegou.
Por isso não precisamos de vigilância rigorosa contra estrangeirismos e neologismos. O uso da língua tem seu próprio filtro. As palavras que não se adaptam evaporam sem esforço. As que se encaixam passam a fazer parte do cotidiano sem que ninguém perceba. Basta observar os termos da moda. Alguns surgem para resolver necessidades reais.
A escolha é sempre do falante
Printar não tinha equivalente perfeito. Não é copiar nem fotografar. É capturar o que aparece na tela. Era natural que se firmasse. O mesmo vale para viralizar, spoiler, home office e híbrido. Já outros, como cringe ou hater, têm mais cara de modismo. Assim como amor de praia não sobe a serra, esses entram para sinalizar atualização e podem desaparecer assim que o entusiasmo da temporada acabar.
No fim, a língua escolhe o que quer adotar. O que se ajusta ao ouvido, ao uso e à convivência diária. Não há necessidade de decretos nem de proteções. A língua brasileira sempre fez sua seleção natural. Acolheu o francês, absorveu o inglês, abrasileirou o que lhe convinha, descartou o que era artificial demais. E continua fazendo isso todos os dias. A língua muda, respira, cresce. E, como sempre, segue o caminho mais simples. O caminho do falante.
Convém apenas uma cautela. Enquanto determinada palavra novidadeira não se incorporar naturalmente ao nosso modo de falar, o melhor é não usar. Correríamos o risco de despertar resistência gratuita só para mostrar que estamos tentando surfar a onda da moda. Siga pelo Instagram: @polito

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