Com uma simples frase, Monroe não só eternizou sua sensualidade, como imortalizou uma das fragrâncias mais icônicas do mundo
por Marlene Polito
Publicado em 17/09/2024, às 10h38
“Mona Lisa” de Leonardo da Vinci surge, quase que despretensiosamente, diante de meus olhos. No Louvre, entre tantos que se contorcem em busca do melhor ângulo para apreciar a obra, deixo-me levar pela admiração que tenho.
Já nos conhecemos ela e eu; volto e volto a vê-la sempre que posso, embora La Gioconda me proponha mistérios que não sei decifrar. Deixando-me sempre à beira de algo sublime, sua imagem me chama e me escapa, seduzindo pelos detalhes, mantendo um mistério intransponível como se fosse impossível apreender completamente sua essência.
Sì, La Gioconda è davvero un enigma vivente: o sorriso indecifrável, o olhar que parece nos seguir a cada movimento, e o equilíbrio delicado entre serenidade e segredos por dizer. Tudo nela transforma-a em uma obra única, intrigante, capaz de fascinar milhões ao longo dos séculos.
Talvez seja justamente essa combinação de mistério e magnetismo que a torna inesquecível, uma condição que nos leva a refletir: o que, afinal, faz algo ou alguém permanecer gravado em nossa memória, atravessando o tempo e o espaço? O que faz algo ser verdadeiramente belo? O que desperta em nós o fascínio, a sedução?
Essas sensações parecem ir além da aparência física, do intelecto ou do transcendental. Existe algo mais profundo que atua silenciosamente – elementos sutis que se sobrepõem, criando uma impressão inescapável, uma força que não podemos nomear, mas que sentimos intensamente.
"O que você veste para dormir?"
Em 1952, Marylin Monroe, ao ser questionada durante uma entrevista sobre o que vestia para dormir, respondeu, com seu charme inconfundível: "Apenas algumas gotas de Chanel N° 5."
Com uma simples frase, Monroe não só eternizou sua sensualidade, como imortalizou uma das fragrâncias mais icônicas do mundo. Naquele momento, o perfume deixou de ser apenas uma essência e se transformou em um símbolo de poder e sedução.
Fragrâncias possuem uma energia dominadora singular. Elas atuam abaixo do nível da percepção consciente, criando uma atmosfera ao redor de uma pessoa ou situação, envolvendo a imaginação e ativando nossas emoções.
O fascínio e a sedução nascem desse campo invisível, e é a combinação dessas sutilezas que cria uma força poderosa, sempre deixando algo por descobrir. É nesse território do intangível que o olfato opera. Há mistério e profundidade; há memória e encantamento.
Encantamento - a arte de seduzir e fascinar
E encantamento não é uma palavra banal. Seu sentido original (a palavra vem do latim incantare, que significa "cantar sobre") está ligado ao ato de lançar um canto ou um feitiço sobre alguém ou algo, o que nos leva diretamente ao mundo da magia e dos rituais, com a intenção de seduzir, manipular ou controlar forças invisíveis ou espirituais.
Hoje, usamos encantamento para descrever o estado emocional de estar profundamente atraído ou imerso em algo que nos atrai intensamente. Seja em relação a uma pessoa, uma ideia, uma experiência, ou até uma obra de arte, o encantamento está associado a uma experiência emocional que transcende o racional, o físico, levando ao fascínio, ao deslumbramento ou à admiração.
Os Sentidos e a magia olfativa
Nossos sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato) são janelas para o mundo exterior, permitindo-nos vivenciar experiências que nos movem emocional e fisicamente.
Entre todos, o olfato ocupa um lugar singular; é o mais primitivo e decisivo. Age de forma quase imperceptível, mas deixa marcas profundas. Um aroma pode mudar o ambiente, influenciar nosso humor e evocar memórias e histórias que nem sabíamos estar presentes.
Diferente de outros sentidos, o olfato tem o poder de nos transportar, nos seduzir e nos surpreender, conectando-se diretamente às nossas emoções e nos revelando uma dimensão mais íntima e poderosa do encantamento.
Perfume – um recurso de sedução
Cleópatra é uma figura apaixonante quando se trata de perfumes. Usava não apenas sua inteligência política e charme pessoal, mas também o aroma para deixar uma marca indelével nas pessoas ao seu redor.
Diz-se que mandava perfumar as velas de seus navios com fragrâncias intensas antes de chegar a Roma, de modo que os ventos levassem o cheiro de sua aproximação antes que ela fosse vista. Assim, seu aroma precedia sua presença, criando uma aura quase divina ao seu redor. Isso reforçava seu poder e sedução, especialmente em suas relações com figuras históricas como Júlio César e Marco Antônio.
Para Cleópatra, o perfume não servia apenas para valorizar a beleza ou destacar o luxo, mas uma estratégia poderosa de manipulação política e pessoal. Os aromas que a envolviam faziam parte de sua persona, como se fossem uma extensão de sua identidade. Eles amplificavam seu magnetismo, criando uma lembrança física e emocional duradoura.
Um poder intangível
O perfume, em sua forma mais pura, atua como um encantamento invisível, conectando-se profundamente às nossas emoções. Ele revela uma dimensão mais íntima e poderosa do fascínio e da sedução, transcendendo o visível e tocando o intangível.
Das fragrâncias de Cleópatra às gotas de Chanel de Marilyn, o olfato nos lembra que o que não pode ser visto muitas vezes é o que mais nos impacta.
Marlene Theodoro Polito é doutora em artes pela UNICAMP e mestre em Comunicação pela Cásper Líbero. Integra o corpo docente nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. É autora das obras “A era do eu S.A.” (finalista do prêmio Jabuti) e “O enigma de Sofia”. [email protected]
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