Cultura

O desafio dos escritores e das editoras para publicar um livro

A maioria dos aspirantes a escritores desiste antes de começar; descubra como perseverar e alcançar o sonho de publicar um livro

A realidade da publicação é dura: muitos autores precisam investir do próprio bolso para ver suas obras impressas e disponíveis - Imagem: Freepik
A realidade da publicação é dura: muitos autores precisam investir do próprio bolso para ver suas obras impressas e disponíveis - Imagem: Freepik
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 30/05/2025, às 11h59


Ser escritor não é fácil. Para escrever um livro, o autor precisa ter bom conteúdo, dedicação à pesquisa, competência para redigir e obstinação para não desistir. E tempo para essa tarefa? Muitos consomem madrugadas e finais de semana escrevendo, e, principalmente, reescrevendo, a obra a que se propuseram concluir.

A maioria desiste. E quase sempre abandona o projeto antes mesmo de começar. Perdi a conta das pessoas que me disseram ter como meta de vida escrever um livro. Entra ano, sai ano, e não produzem uma linha sequer. Quando perguntadas como anda o projeto literário, respondem que a correria não deu espaço.

Uma nova aventura

Quem chega ao fim, entretanto, dá início a uma nova aventura: encontrar uma editora interessada. Depois de enviar os originais para todos os editores que conseguiu descobrir, constata, quase sempre, uma dura realidade — só conseguirá trazer o livro à luz se estiver disposto a bancar a edição por conta própria.

Depois de tanto trabalho e dedicação, não vai deixar a ideia morrer. Junta os caraminguás e peita a ventura. Mil exemplares para começar. Queria 500, mas o editor explicou que a diferença de preço não compensava. Fica emocionado ao receber a diagramação. Revisa com cuidado para não deixar escapar nada. Quando enfim fica pronto, que alegria!

Sempre escapa um gatinho

Passa horas folheando capítulo por capítulo. Fica indignado ao encontrar um erro bobo. Como deixou escapar? Se soubesse que poucos irão ler, e que esses raros leitores provavelmente nem perceberão o “gatinho”, não esquentaria a cabeça. Depois de perambular por várias livrarias, encontra uma que topa ceder espaço para o lançamento. Grande dia!

Se tiver uma boa rede de relacionamentos, reunirá um público razoável. Se for como a maioria, mais uma frustração: vende 15 ou 20 exemplares. Isso porque um velho amigo da vida corporativa, para ajudar, levou cinco para distribuir entre os colegas que não puderam comparecer. No dia seguinte, passa na livraria para recolher o que sobrou, quase tudo.

Muitos tiveram de ralar

Desalentador? Não. É a realidade que quase todos os escritores enfrentam.

Os exemplos são inúmeros. J. K. Rowling recebeu onze recusas antes de publicar o primeiro Harry Potter. John Grisham acumulou 26 nãos antes de conseguir lançar Tempo de matar. E mesmo depois de publicado, teve dificuldade para distribuir. Comprou mil exemplares e saía com o porta-malas cheio, vendendo em mercearias, armazéns e postos de gasolina.

Caso mais triste é o de John Kennedy Toole. Desesperado por não poder publicar seu livro, cometeu suicídio. Mas sua mãe não desistiu. Onze anos depois, conseguiu publicar Uma confraria de tolos, que viria a ganhar o Pulitzer de ficção.

Os editores não têm vida fácil

Se a vida de escritor é complicada, a dos editores também é cheia de percalços. Um exemplo curioso é o de Mark Twain, um dos maiores nomes da literatura mundial. Samuel Clemens, seu nome verdadeiro, fundou a Charles L. Webster and Company com a intenção de publicar apenas obras de qualidade.

Embora tenha tido sucesso com livros como As memórias de Ulysses S. Grant, o negócio não foi bem das pernas. Sua sorte é que tinha extraordinária capacidade de comunicação. Para cobrir os prejuízos da editora, passou a percorrer o país como conferencista. Suas palestras, bem-humoradas e repletas de histórias, eram um sucesso. Com o dinheiro arrecadado, manteve sua aventura editorial.

Uns fazem palestras, outros escrevem

Monteiro Lobato também seguiu esse caminho. Fundou a Editora Monteiro Lobato & Cia, depois a Companhia Editora Nacional. Para sustentar o negócio, tornou-se um verdadeiro agitador de ideias: lutou pela causa do petróleo, defendeu a educação e promoveu a cultura com sua pena combativa.

Ainda bem que esses aventureiros existem. Escrever e publicar podem parecer desafios quase intransponíveis. E são. Mas poucos gestos são tão gratificantes. Produzir um livro é uma realização profunda, transforma a vida de quem escreve e, às vezes, a própria trajetória de uma sociedade.