Os dados de violência doméstica que 21% já foram ameaçadas de morte e 80% não acredita na justiça brasileira
Maria Clara Campanini Publicado em 25/11/2024, às 14h04
No Brasil, um panorama alarmante emerge em relação à violência doméstica, evidenciado por uma pesquisa recente intitulada "Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio", conduzida pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com a Consulting do Brasil. O estudo revela que 21% das mulheres no país já foram ameaçadas de morte por parceiros ou ex-parceiros românticos. Além disso, 60% das participantes relataram conhecer alguém que já enfrentou tal situação. Os dados destacam que as mulheres negras são as mais afetadas.
O levantamento aponta que após sofrer ameaças, seis em cada dez mulheres decidiram romper com o agressor, uma escolha predominante entre as mulheres negras. A pesquisa, que contou com o apoio do Ministério das Mulheres e foi viabilizada por meio de uma emenda da deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), também mostra que, embora 44% das vítimas tenham sentido grande temor, somente 30% registraram queixa junto à polícia e apenas 17% solicitaram medidas protetivas. Isso reflete a percepção de impunidade prevalente entre dois terços das entrevistadas, que acreditam na ausência de consequências significativas para os agressores.
A percepção de impunidade é associada ao aumento dos casos de feminicídio por 60% das mulheres entrevistadas. Na pesquisa realizada em outubro com 1.353 participantes adultas, 42% afirmaram que não acreditam que as ameaças se concretizem em assassinatos. O texto conta com informações da Agência Brasil.
Apesar da confiança nas redes de atendimento às vítimas, 80% das mulheres acreditam que a demanda supera a capacidade desses serviços. A mesma proporção destaca a importância de campanhas de incentivo à denúncia e o uso das redes sociais como ferramentas eficazes no combate à violência.
A desconfiança nas instituições judiciais e policiais é evidente, com 80% das entrevistadas afirmando que tais autoridades não tratam as ameaças com a seriedade necessária. Além disso, uma esmagadora maioria (90%) percebe um aumento nos casos de feminicídio nos últimos cinco anos.
O relato de Zilma Dias ilustra o impacto devastador da violência doméstica. Em 2011, sua sobrinha Camila foi assassinada pelo ex-companheiro aos 17 anos. Esse trágico episódio reforça a pesquisa: 89% das entrevistadas associam o feminicídio ao ciúme e possessividade dos agressores. Zilma descreve como Camila foi isolada pelo parceiro antes do crime brutal.
Zilma também compartilha sua própria experiência de violência conjugal. Durante anos, ela suportou abusos físicos e psicológicos, muitas vezes sem denunciar por medo de represálias. Ela detalha como sua percepção mudou ao perceber que vivia em um cárcere emocional e físico.
Após enfrentar situações extremas, incluindo ameaças durante consultas médicas, Zilma decidiu romper o ciclo de violência. Sua história destaca os desafios enfrentados pelas vítimas ao tentarem sair de relacionamentos abusivos.
Para informações detalhadas sobre a pesquisa ou para buscar ajuda, as interessadas podem acessar o site do Instituto Patrícia Galvão. As vítimas têm à disposição o telefone 180 para denúncias e orientações sobre violência doméstica, além das delegacias especializadas no atendimento à mulher e unidades da Casa da Mulher Brasileira espalhadas pelo país.
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