No princípio, alguns membros do Judiciário chegaram a ironizar a possibilidade de o Brasil sofrer sanções
por Reinaldo Polito
Publicado em 19/09/2025, às 15h50
No início, parecia conversa sem sentido. Onde já se viu os Estados Unidos aplicarem uma taxação de 50% sobre as exportações brasileiras? Aplicaram. Depois veio a história dos vistos. Imagina se teriam topete de revogar o visto de ministros do Supremo. Revogaram. Finalmente, não seria possível “condenarem” um ministro pela Lei Magnitsky. Condenaram.
Ou seja, os Estados Unidos estão com a faca nos dentes para atingir seus objetivos. E foram claros em suas intenções. Na carta que Donald Trump enviou a Lula, em 9 de julho de 2025, as condições foram explícitas: parar com a “caça às bruxas” e terminar o julgamento de Bolsonaro imediatamente. Insistiu na liberdade de expressão, na defesa das Big Techs e no aumento das taxas sobre as exportações brasileiras.
O confronto pode ter sido um erro
Alegando defesa da soberania, o Brasil não apenas recusou as imposições como resolveu confrontar os Estados Unidos. Talvez esse tenha sido um erro. Se Lula tivesse buscado uma aproximação diplomática com Trump, as chances de resolver as questões poderiam ter sido melhores.
Enquanto alguns parlamentares e empresários tentavam abrir portas para o diálogo, Lula continuou criticando os americanos e defendendo o Judiciário brasileiro. Não era difícil prever que essa atitude não resolveria o impasse. Até a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Viotti, tentou se aproximar para uma conversa, mas foi rechaçada.
Não era bravata dos americanos
No princípio, alguns membros do Judiciário chegaram a ironizar a possibilidade de o Brasil sofrer sanções. Considerando os mais de 200 anos de relacionamento entre os dois países, parecia mesmo impossível que medidas drásticas se concretizassem.
Pois é, as sanções ocorreram. Vistos foram revogados, a Lei Magnitsky foi aplicada e as taxações elevadas foram impostas. Pior: segundo o vice-secretário do Departamento de Estado, Christopher Landau, que fala em nome do presidente Trump, os EUA responderão à condenação de Jair Bolsonaro, ainda que haja a ameaça de o ex-presidente cumprir pena na Papuda.
A reação de Landau
Ao saber que a imprensa divulgara que o Supremo Tribunal Federal pensa em determinar prisão em regime fechado caso novas sanções avancem, Landau elevou o tom: “Se essa reportagem for autêntica, apenas confirma que todo o processo judicial em curso no Brasil é uma farsa política. Quem afirma que cumpre o Estado de Direito não pode aumentar a pena de um réu com base na reação de uma terceira parte à sua decisão.”
Para rebater críticas de interferência na soberania brasileira, acrescentou: “Não é nosso papel, como diplomatas, dizer a outros países soberanos o que fazer, mas é nosso dever deixá-los cientes de que suas ações podem e terão consequências.”
A reação de cada um
Não há dúvida do que virá. Como o Brasil não demonstra nenhum sinal de que atenderá aos pleitos americanos, os avisos do governo Trump deverão ser cumpridos, sob pena de serem vistos como bravateiros e perderem credibilidade. Os Estados Unidos já mostraram que não fazem ameaças vazias.
Dois ministros do STF, caso novas sanções alcancem o Judiciário, poderiam ser mais prejudicados: Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso. Gilmar, por manter uma grande escola de educação no Brasil e negócios em Portugal, teria prejuízos imensuráveis. Pelos depoimentos que tem dado, não parece amedrontado, como se tivesse certeza de que não será atingido.
A ligação de Barroso com os EUA
Barroso, ao contrário, embora rejeite as iniciativas do governo Trump, demonstra desconforto com o que pode acontecer. Em pronunciamento na abertura da sessão do plenário em 17 de setembro, contestou as afirmações de Trump: disse que não há caça às bruxas no Brasil e que o julgamento que culminou com a condenação de Bolsonaro e demais réus pela tentativa de golpe transcorreu com transparência e apoio em provas.
Resta saber se os americanos se sensibilizarão com essas alegações. Tudo indica que não. Barroso lembrou ter ligações pessoais com os Estados Unidos, onde estudou e morou, e defendeu que é hora de virar a página para o país retomar a paz e a tranquilidade.
A próxima semana será decisiva para saber como os Estados Unidos agirão e qual o nível de novas sanções. Por enquanto, além das palavras de Landau, só existem informações esparsas de pessoas fora do governo americano. Eles já mostraram que não estão de brincadeira. E talvez, no fim, ouçam as alegações dos brasileiros e usem a velha frase: “Ok, você tem razão, mas está preso.”
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