A amizade sincera não está em concordar ou discordar, mas sim em ajudar quem queremos bem
por Reinaldo Polito
Publicado em 04/10/2024, às 13h33
Carlos conversa com Rafael sobre os seus planos de realizar uma viagem à Europa:
- Estou pensando em tirar umas férias e passar uns 40 dias na Europa.
- Faz muito bem, Rafael. Precisa aproveitar a vida mesmo. Se não fizer agora, vai fazer quando?
- Pois é, mas estou sem grana, com os cartões estourados.
- Besteira. A vida foi feita para ser vivida. Dinheiro você dá um jeito.
Mas será que alguém que apenas concorda com seus planos irresponsáveis é de fato um amigo? Amigo não é aquele que concorda com tudo o que você diz, mas sim aquele que avalia suas palavras; se por acaso, julgar que suas decisões são equivocadas, chama a atenção e mostra que o caminho talvez pudesse ser outro.
Poderia dizer, por exemplo, que para aproveitar bem uma viagem é preciso estar com a vida financeira em dia. Que o ideal seria esperar um pouco mais, pagar boa parte da dívida e ter recursos que proporcionariam passeios mais agradáveis.
Os dois lados
Quem é parceiro mesmo concorda quando tem de concordar, mas discorda quando for preciso. São aquelas pessoas confiáveis, que instigam a pensar, questionam, são sinceras em suas opiniões e ajudam a tomar as decisões mais acertadas.
Um exemplo: João Carlos estava prestes a concluir a compra de um terreno, pretendia construir ali a sua casa de campo. Ao comentar com seu amigo Adalberto a sua intenção de realizar a compra, ouviu uma pergunta que o fez pensar – se ele havia avaliado bem o risco de aquela região ser desapropriada. Pesquisou e descobriu que, sim, havia um problema. Graças a essa observação livrou-se de uma grande enrascada.
Temos que considerar também que aquele que nunca apoia nem sempre deve ser visto como um bom amigo. São pessoas que jamais têm uma palavra de apoio, que só enxergam problemas, que desestimulam qualquer tipo de iniciativa. Falam ‘não’ antes mesmo de você terminar a explicação do que pretende fazer. Não, esses são verdadeiras âncoras que impedem a realização de qualquer tipo de plano.
Já fui um negativista
Sei muito bem o que é ser negativista, porque já fui uma dessas pessoas. Houve época em que eu abortava qualquer ideia que me apresentassem. Não agia assim por mal, mas sim porque não queria que aquele que pedia opinião tomasse decisões equivocadas. Eu analisava os projetos com a minha cabeça, a partir da minha experiência.
Assim que ouvia a proposta, já conseguia antever todos os obstáculos e desafios que precisariam ser enfrentados, e as dificuldades para superar essas barreiras. Sabia que o risco de perder tempo e dinheiro era muito grande. Por isso, desestimulava já no princípio.
O momento da mudança
Um dia tive uma espécie de revelação. Tudo aconteceu num momento em que pensei sobre as ideias desestimuladas por mim, mas que poderiam até ter dado certo, dependendo das circunstâncias e dos rumos que a atividade tomaria. E se esse que me pedia conselho encontrasse um investidor disposto a bancar as etapas do empreendimento? E se ele encontrasse um cliente interessado em comprar boa parte da sua produção?
Essa minha mudança de comportamento me fez bem. Passei a perceber o valor desse novo olhar não só para os outros, mas também para mim mesmo. Sei que fui útil para muitas pessoas seguirem com determinação, e os incentivei a deixar as dúvidas de lado e partirem firmes para os seus empreendimentos.
Lembrei da minha própria situação. Se eu tivesse encontrado alguém que dissesse que eu estava sendo ingênuo em tentar desenvolver um curso de oratória sem dinheiro e sem experiência, teria deixado para trás um plano que com o tempo se mostrou vitorioso. Talvez até tenha dado certo porque a minha ingenuidade não me permitiu vislumbrar as terríveis dificuldades que teria pela frente.
Ninguém apoiou
A bem da verdade, eu estava tão entusiasmado com o meu projeto de montar a escola que não dei ouvidos àqueles que tentaram me dissuadir. Não me lembro de uma pessoa sequer dizer para mim, naqueles momentos iniciais, em que tudo eram apenas ideias nebulosas, que deveria seguir em frente. Gostavam de mim e, por isso, tentavam “me ajudar” mostrando os inconvenientes dos meus sonhos.
Por isso, mudei. Hoje, quando alguém me mostra um plano, antes de dizer que não vai dar certo, pondero bem as saídas que poderia ter. Só desaconselho nas situações em que o risco é o de terra arrasada. Aquelas catástrofes em que a pessoa, além do prejuízo, arrebenta com a vida. Fica endividado, com o nome irremediavelmente comprometido, sem nenhuma saída para se recuperar.
Medindo o risco
Se, entretanto, houver risco de prejuízos, até chegando a zero, mas com trabalho e dedicação seja possível recomeçar, ainda assim terá o meu apoio. Nunca mais impedi que projetos, bons ou maus, pudessem ser levados em frente. No máximo, mostro algumas dificuldades, mas nunca deixo de ponderar que para esses empecilhos sempre pode haver solução.
Precisamos entender que a amizade sincera não está em concordar ou discordar, mas sim em ajudar quem queremos bem a fazer as melhores escolhas. Mesmo que essas decisões nos deixem, às vezes, desconfortáveis e nos desafiem.
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