Polícia

Dossiê secreto: Ruy Fontes investigava esquema de licitações e enriquecimento de servidores andes de ser assassinado

Operação da DIG investiga esquema de corrupção envolvendo servidores e uma empresa de câmeras de monitoramento

Ruy Ferraz Fontes, assassinado, estava reunindo provas contra fraudes em licitações antes de sua morte - Imagem: Marco Ambrosio/ Frame/ Folhapress
Ruy Ferraz Fontes, assassinado, estava reunindo provas contra fraudes em licitações antes de sua morte - Imagem: Marco Ambrosio/ Frame/ Folhapress

Redação Publicado em 05/12/2025, às 08h41


Um dossiê inacabado encontrado no computador do ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes lançou luz sobre um possível esquema de fraude na Prefeitura de Praia Grande. Antes de ser assassinado em 15 de setembro, Fontes, que ocupava o cargo de secretário municipal de Administração, estava reunindo provas contra servidores públicos.

O documento, ainda em rascunho, detalhava suspeitas sobre pelo menos 11 licitações realizadas entre 2021 e 2025. Segundo as anotações de Fontes, essas concorrências teriam sido manipuladas para beneficiar uma empresa específica de câmeras de monitoramento.

Em suas anotações, o ex-delegado não poupou críticas ao estilo de vida de alguns servidores, mencionando apartamentos de luxo, carros importados e viagens internacionais como indícios de enriquecimento ilícito. Entre os citados nominalmente no material está o subsecretário de Gestão e Tecnologia, Sandro Rogério Pardini.

A investigação sobre essas supostas fraudes corre na Delegacia de Investigações Gerais de Praia Grande e já resultou em uma operação de busca e apreensão contra funcionários da prefeitura no início de outubro.

Tensão nos bastidores e a tese do crime

Dias antes de sua morte, o clima no gabinete de Ferraz estava tenso. Servidores relataram à polícia reuniões acaloradas onde o ex-delegado questionava a desclassificação de empresas que apresentaram propostas melhores em um pregão eletrônico, o que acabou favorecendo a empresa investigada. Ele teria chegado a suspender uma licitação de R$ 14 milhões por suspeita de irregularidades.

Apesar dessas descobertas, o Ministério Público segue uma linha de investigação diferente para o assassinato. Promotores acreditam que a morte de Ruy Ferraz Fontes foi uma execução encomendada pelo alto escalão da facção criminosa PCC, motivada por vingança devido ao seu histórico de combate ao crime organizado quando era delegado-geral.

A tese do MP se baseia em evidências de que o crime começou a ser planejado em março, meses antes de Ferraz descobrir as supostas fraudes na prefeitura. A promotoria já denunciou oito pessoas por envolvimento na execução, incluindo suspeitos de fornecerem apoio logístico e carros para o crime.

A Prefeitura de Praia Grande, em nota, reforçou que a denúncia do MP aponta o PCC como mandante do crime e descartou a relação com a atuação de Ferraz na secretaria. Sobre as denúncias de corrupção levantadas pelo dossiê, a administração municipal não detalhou quais medidas internas foram tomadas.