Cultura

Bolsonaro tem o dedo podre para escolher seus aliados

Amizade entre Wajngarten e Bolsonaro foi abalada por mensagens que revelam desconfiança e traição

- Imagem: Reprodução/ Sérgio Lima/ Poder 360

Reinaldo Polito Publicado em 23/05/2025, às 15h18

Todos podem ser traídos. Desde que o mundo é mundo, por um ou outro motivo, e, em alguns casos, aparentemente até sem nenhuma causa relevante, as pessoas traem e são traídas. É do comportamento do ser humano. Mesmo sabendo que esses fatos são comuns, sempre nos surpreendemos com certos casos. O de Wajngarten foi um dos mais recentes.

Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação e advogado de Bolsonaro, ganhou o “bilhete azul”. Quem o via de mãos dadas com o ex-presidente imaginava que havia nesse relacionamento um amálgama indissolúvel. Ocorria nas atitudes e nas conversas uma espécie de cumplicidade. Tudo indicava que os dois, cada um em suas funções, haviam nascido um para o outro.

Michelle não gostou

Para dar ideia da confiança que os unia, basta dizer que Wajngarten defendeu Bolsonaro em vários processos. Quantos segredos, quantas estratégias estiveram presentes ao longo desse relacionamento. Mas a vida, especialmente a vida política, é feita de reviravoltas. Nunca se sabe exatamente o que se passa no coração de um indivíduo.

Bolsonaro ficou magoado com o ex-secretário, mas quem espumou mesmo foi a ex-primeira-dama Michelle. Mensagens obtidas pela Polícia Federal no celular de Mauro Cid revelaram uma faceta até então desconhecida do homem de confiança. Durante um diálogo com o tenente-coronel, ficou sabendo pelo ex-ajudante de ordens que o PL pensava em lançar Michelle como candidata à Presidência da República.

Prefiro Lula

O que se leu não foi nada agradável. Mauro Cid disse: “Prefiro Lula”, e riu. Em resposta, Wajngarten concordou: “Idem”. Em conversas posteriores, Cid avaliou que ela seria destruída em uma campanha por ter “muita coisa suja”. A intenção não foi a de dizer que havia algo errado com ela. Tanto que no diálogo Cid abrandou a crítica:

“Cara, se dona Michelle tentar entrar pra política, num cargo alto, ela vai ser destruída, porque eu acho que ela tem muita coisa suja. Não suja, mas ela, né... a personalidade dela. Eles vão usar tudo contra pra acabar com ela. E Valdemar fala demais também, aquele negócio dos documentos, dos papéis... tá todo enrolado agora.” As mensagens foram divulgadas pelo portal UOL e reproduzidas em diversos veículos da imprensa.

Duas interpretações

A conversa pode ser interpretada de dois modos. De um lado, como um ataque direto a Michelle Bolsonaro, algo imperdoável para o ex-presidente e sua esposa. De outro, como uma tentativa desajeitada de alertar sobre os riscos de uma candidatura, onde qualquer vírgula mal colocada vira munição para os adversários.

Uma lista interminável

Não deveriam ter tido esse tipo de conversa. Não há clima para que Wajngarten continue ao lado de Bolsonaro. Nem ele nem Michelle tolerariam sua presença. Falou o que não devia, na hora errada, no lugar inadequado.

Bolsonaro não dá muita sorte com as pessoas de sua confiança. São incontáveis os casos de parceiros de jornada que provaram não merecer credibilidade. Só para citar alguns: Joice Hasselmann, Alexandre Frota, João Doria, Wilson Witzel, Sergio Moro, Kim Kataguiri, Jorge Kajuru, Santos Cruz, Abraham Weintraub. A lista é grande.

Não era paranoia

Por um ou outro motivo, todos saíram criticando Bolsonaro. E não para por aí. Carlos Bolsonaro afirmou certa vez: “A morte do presidente eleito não interessava apenas aos seus inimigos declarados, mas também aos que estão muito perto.” Muitos achavam que esse comentário não tinha razão de ser, insinuando até que se tratava de paranoia.

O tempo mostrou, entretanto, que não havia exagero em suas palavras. Dia após dia, foram caindo as máscaras e aparecendo a verdadeira faceta daqueles que estavam ao lado do presidente.

Fábio Wajngarten e o coronel Cid são apenas dois dos últimos nomes da extensa relação. Se Bolsonaro conseguir se manter na política, ainda que já esteja muito mais experiente e, provavelmente, desconfiado, por mais precavido que seja, dia mais cedo ou mais tarde alguém estará com um punhal apontado para suas costas. Como fazer para se defender? Quem tiver a resposta que se apresente.

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