Entre ataques e afagos, Trump revela sua complexa relação com o Brasil em discurso na ONU
por Reinaldo Polito
Publicado em 26/09/2025, às 09h52
Como era de se esperar, Trump roubou a cena na ONU. Já chegou causando. De propósito ou não, colocaram uma casca de banana eletrônica em seu caminho. Logo ao chegarem às escadas rolantes que davam acesso ao plenário, o presidente americano e a primeira-dama descobriram que precisariam subir com as próprias pernas, pois o equipamento não funcionava.
A presença de espírito de Trump
Ao iniciar o discurso, outro contratempo: o teleprompter também estava enguiçado. Em vez de se mostrar contrariado, Trump aproveitou a falha para fazer brincadeiras e conquistou a simpatia da plateia:
“Eu não me importo de fazer o discurso sem o teleprompter, porque o teleprompter não está funcionando (risos da plateia). Estou muito feliz de estar com todos vocês e falarei mais do coração. E vou dizer que quem está operando este teleprompter está em apuros, sinceramente (risos da plateia).”
Todos sabiam que ele não pouparia o Brasil de críticas. Aproveitaria a oportunidade para revidar os ataques que vinha recebendo de Lula nos últimos meses. Não faltaram impropérios, de fascista e nazista a imperador do mundo.
O inimigo externo
A respeito da taxação de 50%, disse várias vezes que Trump não queria conversar. E acusou os Estados Unidos de interferir na soberania brasileira. Com esses pronunciamentos, conseguiu até capitalizar pontos nas pesquisas eleitorais. Como estava sem discurso e caindo nos sucessivos levantamentos de aceitação popular, viu nesse “inimigo externo” uma tábua de salvação.
Havia, portanto, expectativa de chumbo grosso na artilharia de Trump. E ele não decepcionou:
“Lamento dizer isso, mas o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só podem se sair bem quando estiverem trabalhando conosco. Sem nós, fracassarão, assim como outros já fracassaram. É verdade.”
E, para não deixar dúvida sobre sua opinião a respeito do Brasil, colocou o dedo em uma ferida que teima em não cicatrizar:
“O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e nas liberdades dos nossos cidadãos norte-americanos e de outros, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos.”
Elogios inesperados
Diante dessas palavras tão duras, a comitiva brasileira se mostrava resistente e até desinteressada. Cochichavam, mexiam no celular, desviavam o olhar da tribuna. Afinal, o conflito verbal estava instaurado. O bate-boca entre os dois líderes seguia acirrado, pois acontecia ali, no “tête-à-tête”, diante do mundo inteiro.
De repente, os assessores de Lula chamaram sua atenção: Trump começara a falar dele. Foi nítido o se ajeitar nas cadeiras. O mais curioso é que o presidente americano fazia afagos ao chefe do Executivo brasileiro. Com palavras suaves, quase meigas, jogava no ar uma bandeira branca que nem o mais otimista poderia esperar:
“Nós o vimos, eu o vi. Ele me viu e nos abraçamos. E então eu disse: Você acredita que vou falar em apenas dois minutos? Na verdade, combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns vinte segundos e pouco, pensando bem. Ele parecia um cara muito bom. Ele gostou de mim, eu gostei dele. E eu faço negócio com pessoas de quem gosto. Mas, pelo menos por 39 segundos, tivemos uma excelente química.”
Quem foi o Trump verdadeiro?
Inacreditável. Aquelas palavras haviam mesmo saído de Trump? Onde foi parar o presidente beligerante que há poucos minutos rosnava como cão enfurecido? Afinal, quem era Trump? O primeiro, das críticas ácidas e severas? Ou este, cheio de mesuras e discurso cordial? Talvez o autêntico seja o primeiro. Mas também pode ser este. Ou até os dois.
Por isso, enquanto Lula contabiliza uma vitória diplomática, que até poderá ser usada em sua campanha, ao mesmo tempo está com a pulga atrás da orelha. Ele sabe que corre um grande risco se comparecer à Casa Branca para uma conversa. Trump já deu mostras de que, depois de elogiar alguns de seus desafetos, abre a caixa de maldades e desce o porrete, sem dó nem piedade.
Os elogios podem não ter sido tão bons
Com essa atitude, Trump arrumou um enorme problema para Lula. O presidente brasileiro perdeu seu discurso. Agora não pode mais dizer que o líder americano não quer conversar. As portas estão abertas para negociação. Por outro lado, o perigo de ser desconsiderado e cobrado pelos desmandos que, segundo ele, o Brasil protagonizou é enorme.
Falam em conversa por telefone ou videoconferência para evitar danos maiores. Tudo indica, entretanto, que, no contato presencial ou remoto, sobrarão farpas por todos os lados. E o discurso que pareceu tão auspicioso pode se transformar em derrota diplomática. Estão todos aguardando esse desfecho. Siga pelo Instagram: @polito
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