Ele foi o melhor orador e o mais elevado escritor da língua portuguesa
Reinaldo Polito Publicado em 02/02/2024, às 15h15
Resolvi enfrentar um grande desafio: “conversar” com o Padre Antonio Vieira. Ele foi o melhor orador e o mais elevado escritor da língua portuguesa. Nesse diálogo, procurei abordar especialmente temas relacionados à arte de falar em público.
Polito – Algumas pessoas julgam que o senhor tenha nascido no Brasil, porque fazem essa confusão? Quem foram seus pais?
Vieira – Imagino que esse equívoco se dê pelo fato de eu ter vindo ainda criança para o Brasil. Sou natural de Lisboa. Ali nasci no dia 6 de fevereiro de 1608 e vim para cá sem ter completado ainda 8 anos. Foram meus pais Cristóvão Vieira Ravasco e D. Maria de Azevedo.
P – Como nasceu sua vocação para o sacerdócio?
V – Os meus estudos tiveram início no colégio da Companhia de Jesus, na Bahia. Foi ali que vi despertar a minha vocação. Sem que eu esperasse, uma pregação do Padre Manuel do Carmo acendeu em mim o desejo de ser sacerdote. Em 1623 ele discorria sobre as penas infernais. Suas palavras me encantaram. A partir daquele momento tive certeza de que seguiria o sacerdócio.
P – Como foi o início de seus estudos para se tornar sacerdote?
V – Os primeiros momentos foram atribulados. Tive de enfrentar a resistência de meus pais. Para ingressar no Colégio dos Jesuítas precisei fugir de casa. Entrei para a Companhia de Jesus aos 15 anos de idade e pude professar minha fé ainda jovem, com 17 anos, no dia 6 de maio de 1625.
P – Seu gosto pela oratória também começou cedo?
V – Sim, bastante jovem. Aos 18 anos atuei como professor de retórica em Olinda. Escolhi como tema das minhas aulas as obras de Sêneca e Ovídio.
P – Quando se tornou padre?
V – Os jesuítas pediram que eu ficasse na Bahia para concluir os estudos de Filosofia e Teologia. Assim, pude ser ordenado padre em 1635. Sempre gostei do púlpito. Em 1640 proferi um dos meus sermões preferidos, Sermão contra os holandeses – Bom sucesso das armas de Portugal contra a Holanda.
P – Não foi nesse sermão que o senhor confrontou e interpelou Deus?
V – Absolutamente. Meu objetivo foi o de levantar o ânimo da nossa gente, usando argumentos legítimos para persuadir Deus a nos ajudar. Jamais poderia confrontar Deus sendo eu um de seus servos mais fiéis.
P – O senhor disse, entretanto, nesse sermão – “Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os Homens, mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas vozes: a vosso peito Divino se há de dirigir todo o sermão”.
V – Sim, disse. Foi apenas um recurso retórico para chamar a atenção daqueles que me ouviam. Se na verdade eu desejasse apenas que Deus me ouvisse, faria sozinho uma prece silenciosa, não um sermão.
P – O senhor foi acusado de misturar religião com política. Em algum momento suas atividades favoreceram os poderosos?
V – Essa é uma narrativa fantasiosa daqueles que nunca se conformaram com a sinceridade das minhas pregações. No Sermão dos Escravos, por exemplo, que preguei no ano de 1653, em São Luís do Maranhão, para a 1ª Dominga da Quaresma, enfrentei os mais poderosos pleiteando que libertassem os índios do cativeiro.
P – Lendo seus sermões será possível aprender a falar em público?
V – Os sermões que proferi, embora tenham sido respaldados na verdade e na sinceridade, foram elaborados no que pude encontrar de melhor na arte oratória. A leitura criteriosa e crítica poderá dar ao leitor um bom caminho para o aprendizado da comunicação em público.
P – O senhor recomenda algum em especial?
V – O mais apropriado para essa finalidade é o Sermão da Sexagésima, que preguei na Capela real em 1655. Nessa pregação mostrei aos padres como deveriam agir para planejar e proferir seus sermões. Foi na verdade uma aula de oratória.
P – O senhor julga que esses princípios pregados há mais de 300 anos teriam aplicação prática nos dias de hoje?
V – Tenho certeza que sim. Quer algo mais apropriado para os dias de hoje que o trecho desse sermão?
“Sabem, Padres Pregadores, por que fazem pouco abalo os nossos sermões? Porque não pregamos aos olhos, pregamos só aos ouvidos. Por que convertia o Batista tantos pecadores? Porque assim como as suas palavras pregavam aos ouvidos, o seu exemplo pregava aos olhos”.
Diga-me, será que existe matéria mais atual que essas palavras? Já pensou se os nossos políticos, governantes, educadores, pregadores, todos, enfim, seguissem esses mesmos conselhos?!
P – Gostaria de deixar alguma mensagem àqueles que acompanham esta nossa conversa?
V – Sim, uma frase: para falar ao vento, bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras.
Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de Oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão de Marketing e Comunicação, Gestão Corporativa e MBA em Gestão de Marketing e Comunicação na ECA-USP. Escreveu 35 livros, com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram: @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no https://reinaldopolito.com.br/home/
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