Há indícios de que o tiro tenha partido de uma arma policial durante uma perseguição a suspeitos
Alanis Ribeiro Publicado em 07/11/2024, às 09h10
A vida de Beatriz da Silva Rosa tomou um rumo trágico nos últimos nove meses. A cozinheira perdeu seu marido, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, e recentemente seu filho mais novo, Ryan da Silva Andrade Santos, de apenas 4 anos, ambos vítimas de bala perdida em confrontos policiais no Morro São Bento, em Santos.
“Meu sentimento é de revolta. Eu perdi meu marido há nove meses, a polícia matou. Agora perdi meu filho assim”, lamentou Beatriz ao G1.
Ryan foi atingido por um disparo enquanto brincava nas ruas do bairro, na terça-feira (5). Segundo o porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, há indícios de que o tiro tenha partido de uma arma policial durante uma perseguição a suspeitos. Na mesma operação, dois adolescentes suspeitos de envolvimento na troca de tiros também foram baleados. O mais velho, de 17 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu no local; o outro, de 15 anos, segue internado em estado grave.
A morte de Ryan trouxe à tona a dor de uma família já enlutada pela perda do pai, Leonel, em fevereiro deste ano. Leonel foi morto por agentes do 4º Batalhão de Choque durante a "Operação Verão". Testemunhas afirmaram que os policiais chegaram atirando sem aviso prévio.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo alegou que Leonel teria apontado uma arma para os policiais, em um suposto envolvimento com o tráfico de drogas, versão contestada pela família.
Sobre o caso de Leonel
Leonel Andrade Santos, morto em 9 de fevereiro durante uma operação policial, usava muletas devido a dificuldades de locomoção, segundo sua família. A esposa de Leonel, Beatriz, afirmou que ele não poderia ter trocado tiros com os policiais, como descrito no Boletim de Ocorrência, pois não conseguia se segurar e andar com as muletas.
Uma moradora da comunidade fotografou Leonel cerca de uma hora antes de sua morte, enquanto aguardava uma cirurgia para a retirada de um projétil alojado no joelho. A foto foi enviada acidentalmente para um motoboy e, no dia seguinte, compartilhada com Beatriz. A imagem mostrava Leonel ao lado das muletas.
Beatriz também negou que o marido tivesse envolvimento com armas, apesar de seu passado relacionado ao tráfico de drogas, e garantiu que ele não portava nenhuma arma no momento do tiroteio.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou que Leonel e outro homem, Jefferson, foram baleados e mortos após apontarem armas para os policiais durante uma operação de combate ao tráfico, versão que a família contestou.
Beatriz Rosa expressou sua revolta com as ações da polícia. "Eu perdi meu marido e agora meu filho. Não me sinto segura", desabafou. Determinada a proteger seus outros dois filhos, de 7 e 10 anos, ela está decidida a deixar o Morro São Bento.
O caso gerou grande comoção e levou a Secretaria de Segurança Pública a iniciar uma investigação para apurar as circunstâncias dos disparos que resultaram na morte do menino. A perícia nas armas utilizadas pelos policiais e no local dos eventos está em andamento para esclarecer os fatos.
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