A sessão na Câmara termina em confusão, com microfones desligados e acusações mútuas entre Haddad e os deputados da oposição
por Reinaldo Polito
Publicado em 13/06/2025, às 13h35
Nesta quarta, 11, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro Fernando Haddad trocou farpas com o deputado Nikolas Ferreira.
Até aí, tudo dentro do jogo político. Mas um fato inusitado chamou atenção. Após fazer seus questionamentos e apontamentos, o deputado precisou se retirar para participar de outra comissão em andamento. Haddad, sentindo-se acuado, aproveitou a ausência e tentou desqualificar os opositores:
“Agora, aparecem dois deputados, fazem perguntas e fogem do debate.” E, para dar mais ênfase ao desabafo, elevou o tom: “É um pouco de molecagem e isso não é bom para a democracia”.
Moleque é você
Quando tudo parecia ter voltado ao eixo, quem reapareceu foi o deputado Carlos Jordy, citado por Haddad como um dos tais “fujões”. Pediu direito de resposta e rebateu com firmeza: “Moleque é você, ministro, por ter aceitado um cargo dessa magnitude e só ter feito dois meses de economia.” E, para arrematar, disparou: “O governo Lula é pior que uma pandemia”.
A sessão ainda renderia mais. Nikolas Ferreira voltou ao plenário e não deixou barato: “O ministro Haddad falou que estava respondendo elegantemente às perguntas, e chamando deputados de moleques. Você acha que tem debate sério com alguém que diz que eu não posso ter 300 milhões de visualizações no vídeo porque não tem 300 milhões de pessoas no mundo que falam português?”
Os microfones foram desligados
A discussão virou confronto direto. Os microfones foram desligados e o deputado Rogério Correia, do PT, que presidia a sessão, a encerrou. Nikolas retrucou dizendo que fujão era o ministro. Em situações como essa, costuma-se dizer que a vantagem tende a ser da oposição: faz as críticas e coloca o governo na defensiva. Como Nikolas domina as redes sociais, os cortes do embate ganharam enorme repercussão e desgastaram ainda mais a imagem do ministro, do presidente e da gestão atual.
O silêncio é, muitas vezes, o melhor conselheiro. Como disse Oscar Wilde: “Se soubéssemos quantas e quantas vezes as nossas palavras são mal interpretadas, haveria muito mais silêncio neste mundo”.
O Posto Ipiranga também bateu boca
Esses confrontos, aliás, não são novidade. Basta lembrar do episódio envolvendo Paulo Guedes, então ministro da Economia, também na Câmara dos Deputados.
Apelidado de “Posto Ipiranga” por Jair Bolsonaro, Guedes era reconhecido por seu domínio técnico e, em 2019, foi eleito pela revista inglesa GlobalMarkets como o melhor ministro da Economia da América Latina. Na política, no entanto, ainda engatinhava.
“Servidores públicos são parasitas”
Em abril daquele ano, talvez empolgado pelos elogios que recebia, foi à Câmara com expectativa de ser tratado com respeito e consideração. Mas ao chegar para prestar esclarecimentos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), percebeu que o ambiente era hostil. Seus discursos anteriores deixaram flancos abertos. Mencionou, por exemplo, o AI-5: “Não se assustem então se alguém pedir o AI-5.”
Chamou os servidores públicos de parasitas. E ainda tropeçou em outra fala que repercutiu negativamente: “Foi uma época de todo mundo ir para a Disneylândia (empregadas domésticas), uma festa danada.” Faltou sensibilidade política.
Tchutchuca e tigrão
A oposição não deixou por menos. Um dos mais duros foi o deputado Zeca Dirceu (PT-PR), que atacou com palavras que se tornaram célebres: “Eu estou vendo, ministro, que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com as pessoas com deficiência. O senhor é tigrão com os agricultores, com os professores, mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país.”
Guedes reagiu com indignação: “Eu não vim aqui para ser desrespeitado, não. Tchutchuca é a mãe, é a vó, sua família. Respeita as pessoas. Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita. Se você não me respeita, não merece o meu respeito.” A partir daí, o ambiente ficou impraticável para qualquer debate produtivo.
Portanto, imaginar que o entrevero entre Haddad e Nikolas seja apenas mais um reflexo da polarização recente é um erro. Esse tipo de confronto direto no Congresso é mais recorrente do que se costuma admitir.
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