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Quem defende Trump diz que não se faz omelete sem quebrar os ovos

Com a aproximação do tarifaço, exportações brasileiras enfrentam cancelamentos e perdas significativas, especialmente no agronegócio

Foto: Reprodução/ AFP
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Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 25/07/2025, às 09h15


Cada vez mais pessoas se mostram assustadas com as consequências do tarifaço a ser aplicado por Trump no dia 1º de agosto. À medida que a data dessa retaliação se aproxima, há notícias de que exportações de produtos brasileiros para os Estados Unidos estão sendo canceladas.

Alguns exportadores não sabem o que fazer. Só as exportações de carne tiveram queda de 80% nos últimos três meses. Pescados já embarcados precisaram ser retidos no porto porque não chegariam aos EUA antes do aumento das tarifas. O agronegócio estima perdas superiores a US$ 5 bilhões.

Procurando culpados

Como era de se esperar, os prejudicados começaram a procurar culpados. Analistas pisam em ovos, receosos de sofrer retaliações por seus comentários. A maioria bate e assopra: diz que algo precisava ser feito para mudar uma situação insustentável, mas logo acrescenta que não concorda com as medidas do presidente americano.

Alguns parlamentares do próprio PL (Partido Liberal), legenda de Jair Bolsonaro, talvez prevendo prejuízos eleitorais, passaram a fazer coro com governistas e a criticar o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro. Atribuem a ele a responsabilidade pelo tsunami que atingiu o Brasil. Os que criticam o presidente americano são imediatamente refutados por Eduardo.

Os interesses políticos

Um dos episódios mais rumorosos foi protagonizado pelo governador mineiro Romeu Zema. Ele disse que Eduardo havia criado um problema para a direita com suas ações nos Estados Unidos. O deputado respondeu no mesmo tom: “Está preocupado com sua turminha da elite financeira. Ao que parece, estava tudo uma maravilha enquanto era senhora e mãe de família comum sendo destroçada pela tirania”.

Esses “ataques” de parte da direita, no entanto, precisam ser vistos com reservas. Há interesses eleitorais não declarados nas entrelinhas. O próprio Zema, antes de Bolsonaro encerrar seu mandato, colocou as manguinhas de fora no cenário político. Criticou o então aliado, especialmente em relação à condução da vacinação durante a pandemia.

Uma luta desigual

Seus argumentos, na época, ecoavam os discursos da oposição. Portanto, suas atuais declarações não deveriam surpreender. Afinal, Zema é um dos possíveis candidatos à presidência em 2026.

Assim, as opiniões sobre as medidas adotadas por Trump devem ser analisadas também à luz das conveniências políticas de quem as emite. Quem se beneficia pessoalmente das causas que defende nem sempre age com foco no bem da nação. Na prática, ninguém pode imaginar que o Brasil teria condições de enfrentar os Estados Unidos em pé de igualdade. A diferença de poder é abismal.

O Judiciário no olho do furacão

Não há quem saiba ao certo como resolver essa crise. Lula optou pelo confronto com Trump, inclusive com declarações ofensivas. Nossa diplomacia, antes reconhecida internacionalmente por sua competência, não conseguiu a aproximação desejada. Ao contrário, foi rechaçada nas tentativas mais recentes.

Trump, com todo o poder de que dispõe, não deve recuar. A questão econômica foi apenas a última de suas exigências para evitar o tarifaço. Antes disso, já havia sinalizado que o Judiciário brasileiro deveria “acabar com a caça às bruxas”, numa referência ao que considerou perseguição a Jair Bolsonaro, por quem demonstra elevada consideração.

Os três poderes envolvidos

Em seguida, mencionou as Big Techs, que sofreram restrições por serem obrigadas a decidir o que poderia ou não ser publicado em suas plataformas. E, por fim, defendeu a liberdade de expressão de brasileiros residentes nos Estados Unidos.

Não se trata de um único problema, mas de um conjunto de fatores que envolvem os três Poderes da República: Judiciário, Executivo e Legislativo. Quem vai ceder para que o país não mergulhe em um caos possivelmente irreversível e cruel para os brasileiros?

Omelete indigesto

Antes mesmo da entrada em vigor das medidas, já há pessoas e empresas deixando o país, investidores retirando recursos, empreendedores adiando projetos e parceiros comerciais hesitantes, com medo de serem afetados. Ainda há tempo.

E não será de ações ideológicas ou politiqueiras que surgirá uma saída. É possível que você, assim como eu, tenha sua opinião sobre os culpados. Mas isso importa agora? O que interessa é encontrar uma solução para o país. Os ovos estão sendo quebrados. Será que o omelete é saboroso o suficiente para justificar o sacrifício? Siga pelo Instagram: @polito