por Reinaldo Polito
Publicado em 21/07/2025, às 08h27
Ninguém se conforma com as atitudes de Lula. No olho do furacão, justamente quando as pressões dos Estados Unidos contra o Brasil se intensificam, em vez de contemporizar com discursos amenos e apaziguadores, o presidente brasileiro, em 17 de julho, durante entrevista à jornalista da CNN Christiane Amanpour, afirmou:
“Donald Trump não foi eleito para ser o imperador do mundo. Se morasse no Brasil e tentasse fazer aqui o que fez no Capitólio, certamente também seria julgado e poderia ser preso.”
Complicou ainda mais
Quem ouviu, ficou de cabelo em pé. Os comentários mais amenos foram: “Ele está doido!”, “O que deu na cabeça do presidente?” E, à primeira vista, o questionamento faz sentido. Como o Brasil poderá negociar a pesada tarifa de 50% com o primeiro mandatário americano, estabelecendo um confronto aberto com ele?
Lula sequer integra a comitiva que vai tratar diretamente do tema. Escalou seu vice, Geraldo Alckmin, e montou um grupo com senadores e líderes empresariais para a missão. Se participasse, com declarações como essa, atrapalharia mais do que ajudaria.
Não é um “privilégio” brasileiro
Só que Lula é um animal político. Com a ameaça do tarifaço, o presidente, que estava nas cordas, perdendo em todas as pesquisas, sem perspectivas reais para 2026, teve um leve aumento de popularidade. Talvez veja vantagens nessa disputa tarifária.
Agarrou-se a essa tábua de salvação e procurou capitalizar o episódio. Trump enviou cartas a 25 países ameaçando aumentar tarifas sobre exportações para os Estados Unidos. Portanto, não é um “privilégio” brasileiro essa pressão. Lula, porém, tenta atribuir a Bolsonaro a culpa pelas ações americanas.
A conta vai chegar
O que parece não estar no radar do presidente é que, passada a tempestade, pode restar um rastro difícil de contornar. Afinal, todos sabem que o presidente do Brasil já não é Bolsonaro há muito tempo. É Lula. E é ele quem está com a caneta na mão e a responsabilidade de encontrar soluções para os problemas que afligem a nação.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu às palavras de Lula com firmeza: “O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre.”
Lula se mostrou desafeto de Trump
E esse não foi o primeiro ataque de Lula a Trump. Durante a campanha presidencial americana, declarou apoio a Kamala Harris e afirmou torcer por sua vitória, porque a volta de Trump significaria “o retorno do nazismo e do fascismo”.
Mais recentemente, quando Trump ameaçou taxar o aço e o alumínio exportados de todos os países para os Estados Unidos, Lula rebateu em tom duro: “Não adianta o Trump continuar gritando de lá, porque aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo.”
Só bravatas
Não há dúvida de que esses arroubos soam como bravatas. Se nem a China, e outros países mais influentes, se atrevem a enfrentar Trump de forma aberta, por saberem que estão lidando com o homem mais poderoso do mundo, como pode o Brasil fazer isso? Importante na geopolítica, sim, mas, nesse contexto, um traque diante de um canhão.
Trump “exigiu” o encerramento imediato do julgamento de Bolsonaro. Ministros do STF, o Executivo e diversos parlamentares viram nessa exigência uma clara interferência na soberania brasileira, e prometem usar esse argumento nas negociações. Alegarão também que a tarifa não afetará apenas o Brasil, mas também os próprios americanos.
Missão impossível
Esse é um ponto. Mas faltam argumentos para rebater os demais pleitos. Além do julgamento de Bolsonaro e da tarifa, estão na pauta de Trump as Big Techs, a liberdade de expressão e supostas ilegalidades jurídicas cometidas contra cidadãos residentes nos Estados Unidos.
A comitiva brasileira deve embarcar para Washington no dia 29 de julho, dois dias antes do tarifaço entrar em vigor. Um prazo apertado para discutir temas tão complexos. O risco de fracasso parece mais visível no copo meio vazio do que no meio cheio. E a pergunta do início permanece: Lula está sendo ingênuo ou estrategista?
Às vezes, perde quem ganha
Vale ainda uma última reflexão: mesmo que a estratégia seja eleitoralmente eficaz, compensa para um político sacrificar o bem-estar da população apenas para vencer uma eleição?
Em política, como no xadrez, o xeque-mate pode vir não pela rainha ou pelo rei, mas por um peão que avançou despercebido. A diferença é que, nesse tabuleiro, quem paga o preço são os brasileiros.
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