Unidades médicas da cidade enfrentam crise no atendimento, com falhas graves e denúncias de negligência
Lívia Gennari Publicado em 08/03/2025, às 13h48
Moradores de São Vicente têm reclamado constantemente da precarização na rede pública de saúde da cidade. Há diversas denúncias expostas nas redes sociais, onde os munícipes se queixam do descaso em que se encontram algumas unidades de saúde.
O Diário ouviu alguns pacientes e familiares que tiveram péssimos atendimentos, principalmente no Pronto-Socorro Jardim Rio Branco e no Pronto Socorro do Humaitá. Os relatos indicam variados problemas nas unidades mencionadas, como a demora no atendimento médico, negativa à exames básicos, como de sangue, entre outras falhas que afetam gravemente a saúde da população.
Um cenário, que já era preocupante, ficou ainda mais alarmante após a morte de Alessandra Rebeca da Silva Sousa, de apenas 11 anos.
De acordo com os familiares da jovem, Alessandra foi levada, pela mãe, ao Pronto-Socorro Jardim Rio Branco, em 15 de fevereiro deste ano, um sábado, pois estava sentindo dores devido a presença de furúnculos na axila. A menina passou pela triagem e logo em seguida foi avaliada por uma médica da unidade que recomendou o uso de compressas sob a região infectada. Após isso, a profissional medicou Alessandra com Diclofenaco injetável e concedeu-lhe alta.
Segundo a mãe da jovem, Alice Maria de Sousa Silva, 29, ela retornou à sua residência com a filha, na esperança de que a menina melhorasse com a medicação aplicada. Contudo, pouco tempo depois, Alessandra começou a passar mal, apresentando vermelhidão e caroços pelo corpo.
Preocupada com a situação da filha, Alice retornou ao P.S. Rio Branco na tentativa de entender o que estava acontecendo com a jovem.
Devido a troca de plantão, outro médico atendeu Alessandra. O mesmo se espantou com o fato da prescrição do Diclofenaco para a menina, já que desde 2003, a medicação é contra-indicada para menores de 14 anos. Mas, constatou que Alessandra realmente havia sido medicada com o tal anti-inflamatório.
Segundo determinação da Anvisa (RDC nº 137/2003), inexistem estudos suficientes de segurança e eficácia do Diclofenaco em crianças. Por isso, não é recomendado o uso em menores de 14 anos. Alessandra tinha apenas 11.
Assim sendo, a equipe de plantão iniciou um tratamento para tentar interromper a reação alérgica utilizando adrenalina e xarope antialérgico. Alessandra ficou em observação por quase uma hora e depois retornou novamente para casa.
No domingo, dia seguinte à entrada da jovem na UPA, a equipe médica realizou diversos exames e fez uso de Benzetacil. Durante a madrugada de segunda-feira, dia 17, o quadro de Alessandra piorou consideravelmente e os médicos de plantão tentaram entubá-la.
Quando a mãe da menina retornou ao hospital, por volta de 8h30 da manhã, funcionários da unidade de saúde a informaram que Alessandra havia falecido naquele mesmo dia, às 7h38.
A família acredita que a jovem foi vítima de negligência médica e abriu um boletim de ocorrência. Um pedaço do pulmão de Alessandra foi retirado para ser examinado em São Paulo.
O Diário tenta contato com a Santa Casa de São Bernardo, órgão responsável pelo Pronto Socorro do Rio Branco, para averiguar se o laudo de óbito oficial e a ficha de exames da jovem já foram concluídos. De acordo com a SSP (Secretaria Pública do Estado de São Paulo, o caso está sendo investigado pela 3° Distrito Policial (DP) da cidade de São Vicente.
Além do caso de Alessandra, moradores relatam dificuldades constantes no atendimento. Há queixas sobre longas horas de espera e a recusa de exames essenciais, como os de sangue. "Como pode uma pessoa que chega passando mal não ter acesso a um exame básico?", questiona um dos pacientes ouvidos pela reportagem.
Outro morador da cidade conta que buscou atendimento na UPA Jardim Rio Branco, no Pronto Socorro Parque das Bandeiras, Pronto Socorro do Humaitá e P.S. Central de São Vicente. Ele reitera a reclamação anterior.
O comerciante, que optou pela não identificação, relatou que sentia fortes dores devido a um inchaço em um dos pés. Ao procurar as unidades mencionadas acima, disse que não conseguiu fazer um exame de sangue para entender o motivo do inchaço.
“A orientação que me deram é que lá não faz exame, só poderiam receitar remédios para passar a dor e anti-inflamatórios. Mandaram eu procurar o postinho mais próximo”, relata o denunciante.
Ele ainda conta que só conseguiu descobrir a causa do inchaço, um quadro de erisipela (processo infeccioso da pele), quando buscou um outro pronto socorro, na cidade vizinha, em Praia Grande.
Outro fator que agrava a crise no atendimento é a falta de pagamento aos médicos da rede.
No Pronto Socorro do Humaitá, por exemplo, munícipes relataram falta de atendimento porque os profissionais da unidade não tinham recebido salário.
“A assistente social avisou que os médicos só iriam atender casos de emergência porque o prefeito não tinha pago eles. Nos mandaram ir pra casa e ainda disseram que teria uma paralisação dos médicos do Humaitá por causa disso”, relatou uma munícipe que buscou atendimento na unidade. Ela preferiu não se identificar.
O Diário de São Paulo tentou contato com a Secretaria de Saúde de São Vicente (SESAU) e com a Prefeitura da cidade para obter esclarecimentos sobre as denúncias, mas até o momento não obteve resposta.
Todavia, a reportagem seguirá no aguardo de uma devolutiva dos órgãos responsáveis pelos casos mencionados, na expectativa de que haja algum esclarecimento à população que segue aguardando melhorias no atendimento e medidas concretas para evitar novas tragédias.
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