Violência Policial

Menino morto na Baixada Santista expõe violência policial

O menino morto em tiroteio reacende o debate sobree violência policial no Brasil

Menino morto na Baixada Santista expõe violência policial - Imagem: Reprodução/ g1
Menino morto na Baixada Santista expõe violência policial - Imagem: Reprodução/ g1

Maria Clara Campanini Publicado em 07/11/2024, às 13h11


Em um incidente que trouxe à tona preocupações sobre a violência policial no Brasil, Ryan da Silva Andrade Santos, de apenas quatro anos, perdeu a vida em meio a um tiroteio entre policiais no Morro do São Bento, em Santos, litoral paulista. O menino brincava na calçada quando foi atingido por uma bala que, segundo informações preliminares da Polícia Militar de São Paulo, pode ter sido disparada por um agente da corporação.

O porta-voz da Polícia Militar, coronel Emerson Massera, afirmou em coletiva de imprensa que o projétil fatal ainda passará por análise balística para confirmar sua origem. Contudo, ele indicou que há indícios de que o tiro tenha partido de um policial militar. "Após o laudo pericial, poderemos determinar com precisão a origem do disparo", declarou.

A morte de Ryan soma-se a uma preocupante lista de vítimas jovens em confrontos envolvendo forças de segurança no Brasil. Somente em 2023, casos semelhantes ocorreram com Thiago Menezes Flausino e Eloáh da Silva dos Santos, ambos mortos em operações policiais no Rio de Janeiro e em outro estado brasileiro, respectivamente. Estes episódios não figuram entre as 243 mortes de crianças e adolescentes oficialmente registradas como resultantes de intervenções estatais naquele ano.

De acordo com o relatório "Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão", elaborado pela Rede de Observatórios da Segurança, 87,8% das mais de quatro mil mortes atribuídas à polícia nos estados monitorados em 2023 foram de pessoas negras. Isso equivale a uma morte a cada quatro horas nesse grupo racial majoritariamente afetado.

Silvia Ramos, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, destaca a falta de transparência nas investigações dessas ocorrências. "Os registros são problemáticos porque tratam essas mortes como casos isolados ou acidentes, sem considerar a responsabilidade sistêmica das políticas de segurança pública", critica Ramos.

O relatório também aponta disparidades na letalidade policial entre diferentes estados brasileiros. Na Bahia, por exemplo, houve um aumento expressivo nas mortes causadas por policiais em 2023, superando o Rio de Janeiro pelo segundo ano consecutivo.

A situação ressalta uma questão crítica: a necessidade urgente de políticas públicas que assegurem maior controle e responsabilização das forças policiais. Enquanto não houver mudanças substanciais na abordagem estatal sobre segurança pública, tragédias como a de Ryan podem continuar a ocorrer sem a devida justiça ou reparação para as famílias das vítimas.