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Plateias de jovens são desafiadoras para quem fala em público

O diálogo com os jovens renova sua comunicação, garantindo resultados eficazes

Plateias de jovens são desafiadoras para quem fala em público - Imagem: reprodução Freepik
Plateias de jovens são desafiadoras para quem fala em público - Imagem: reprodução Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 05/07/2023, às 11h27


Gosto muito de falar com os jovens. Sempre que posso, aceito convites de universidades para ministrar palestras. Ao mesmo tempo em que posso ser útil a eles, transmitindo ensinamentos a respeito da arte de falar em público, também sou beneficiado.

Quem são os meus alunos no curso de oratória? Em sua maioria, são vice-presidentes de grandes organizações, executivos da alta gerência e profissionais liberais. Por isso, se eu não tomar cuidado, esse tipo de relacionamento constante poderia deixar a minha comunicação “out of date”, desatualizada. Em contato com a garotada, recebo “novos ares”.

Consigo verificar se a minha linguagem continua adequada, se as brincadeiras que faço ainda tocam a emoção da plateia e, principalmente, se consigo manter a atenção de todos por cerca de duas horas. É um aprendizado permanente. Quantas mudanças precisei fazer para continuar tendo bons resultados!

Falar com os jovens pode parecer simples à primeira vista, mas esse tipo de comunicação exige estudo, reflexão e bastante experiência. Apenas a maneira adequada de comunicar as ideias poderá prender a atenção deles e fazê-los se interessar pela matéria tratada. Alguns conceitos se mostram como pontos basilares a respeito desse tipo específico de ouvinte, a partir dos quais você terá condições de atingir os objetivos que desejar.

As características da juventude foram estudadas há muitos séculos e, com pequenas adaptações, permanecem até os dias atuais. Nem é necessário voltar ao passado distante para nos conscientizarmos de algumas mudanças significativas. Sabemos, por exemplo, que de 20 ou 30 anos para cá os jovens passaram a ter medos, preocupações e estilo de vida diferentes. Ainda mais com as vertiginosas transformações provocadas pela tecnologia e pelos novos meios de comunicação, a cada dia surge uma novidade que afasta hábitos e costumes que pareciam imutáveis.

Vale aqui uma ressalva. Este é um estudo interessante, curioso e muito instigante. Embora tratemos especificamente dos jovens, não podemos nos esquecer de que é preciso ter uma comunicação apropriada para cada público.

Uma visão diacrônica a esse respeito nos leva a um dos maiores pensadores de nossa herança cultural. Aristóteles analisou bem como são os jovens na “Arte retórica”. Suas considerações feitas há 2.400 anos podem ser adotadas sem reservas ainda nos dias atuais. Seus estudos sobre as características deles nos ajudam a entender como devemos nos comportar diante desse tipo de público. De todas as ponderações desenvolvidas pelo pensador grego aqui está, talvez, a que mais interessa a quem precisa se comunicar diante dessa plateia. Atentemos para o fato de que a forma como determinados temas devem ser abordados diante dos jovens tem de levar em conta a esperança e o porvir:

“Estão cheios de sorridentes esperanças; assemelham-se aos que beberam muito vinho, sentem calor como estes, mas por efeito de seu natural e porque não suportaram ainda muitos contratempos. Vivem, a maior parte do tempo, de esperança, porque esta se refere ao porvir e a recordação ao passado; e para a juventude o porvir é longo, e o passado, curto. Nos primeiros momentos da vida, não nos recordamos de coisa alguma, mas podemos tudo esperar”.

Esta é a chave para o sucesso de quem deseja se comunicar bem com os jovens. Eles são irrequietos e idealistas. Estão com a cabeça no futuro, pois, como disse Aristóteles, o passado para eles é quase nada, enquanto o futuro é distante. Tanto que alguns se julgam até eternos. Portanto, ao falar com esse tipo de público, discorra sobre o amanhã, reacenda o entusiasmo latente, a crença em que é possível agir e realizar. Apresente abordagens que mencionem o futuro. Mostre planos, desafios, programas para novas realizações. É esse tipo de referência que irá motivá-los a acompanhar atentamente uma apresentação.

É importante enfatizar que o conteúdo pode continuar o mesmo para todo tipo de ouvinte. A mensagem até permanece sem alterações independentemente da característica do público, apenas a maneira de abordar o tema é que precisa estar de acordo com o perfil de cada plateia.

Por todos esses motivos, ao falar com ouvintes predominantemente jovens tenha em mente os ensinamentos da “inteligência”, pois como sabemos foi assim que Platão se referiu a Aristóteles quando este não compareceu a uma das reuniões na Academia: “A inteligência está ausente”. Vamos nos lembrar sempre de que, ao falar com eles, temos de ajudá-los a vislumbrar o amanhã e imaginar como será o futuro.

E para que conheçamos ainda melhor quem são, encerremos com mais uma ponderação do grande pensador grego: “A índole deles é antes boa do que má, por não terem ainda presenciado muitas ações más. São também crédulos, porque não foram, todavia, vítimas de muitos logros”. Siga pelo Instagram: @polito