A reserva no interior paulista é um importante refugiu para animais e plantas silvestres
Maria Clara Campanini Publicado em 25/09/2024, às 13h04
A rodovia Carlos Tonani (SP-333), localizada entre as cidades de Sertãozinho e Barrinha, no interior paulista, atravessa um dos últimos refúgios para animais silvestres da região: a reserva biológica Augusto Ruschi. No entanto, este importante ecossistema de 840 hectares sofreu uma devastação significativa após um incêndio que durou três dias no início deste mês, destruindo mais de 90% da área.
Segundo estimativas do Núcleo de Proteção e Bem-Estar Animal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Sertãozinho, o incêndio não apenas reduziu a vegetação a cinzas, mas também dizimou cerca de 80% da fauna local. A destruição desta reserva corresponde à metade dos 1.600 hectares de unidades de conservação estaduais que foram atingidos por queimadas na atual crise, conforme levantamento preliminar da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
Comparativamente, embora a devastação nas unidades de conservação seja significativa, ela é superada pelos 65.270 hectares de vegetação nativa incendiados em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reservas legais em propriedades rurais, segundo dados da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. No total, a área florestal afetada pelo fogo no estado atinge 66.870 hectares, o que equivale a aproximadamente 44% da área da cidade de São Paulo.
Em resposta ao desastre, equipes municipais e voluntários em Sertãozinho estão engajados em operações de busca e resgate para ajudar os animais sobreviventes. Durante uma visita ao local pela reportagem da Folha de S.Paulo no último domingo (22), ainda era possível ver poucos sinais de vida entre as cinzas, como mamões maduros sobre troncos queimados.
Luís Belezini, veterinário da prefeitura, relatou avistamentos recentes na área devastada, incluindo capivaras, macacos-prego, teiús, passeriformes e um furão. "Ainda encontramos animais com consequências diretas ou indiretas das queimadas, como queimaduras ou desnutrição", afirmou Belezini.
Até o momento, seis animais foram resgatados: um cachorro-do-mato, um filhote de lobo-guará, um sagui-de-tufo-preto, um tamanduá-bandeira, um tatu-galinha e um filhote de urubu.Todos foram encaminhados para tratamento no centro anexo ao zoológico em Ribeirão Preto.
O plano para recuperar a área inclui reflorestamento com espécies nativas, o que pode levar décadas. A engenheira ambiental Gabriela Galon mencionou o uso potencial de sementes envolvidas em hidrogel para garantir a umidade necessária para a sobrevivência das plantas em solo seco.
Além disso, a eventual reintrodução de animais saudáveis na área afetada faz parte das estratégias futuras. No entanto, especialistas alertam que essa etapa deve ser cuidadosamente planejada para evitar riscos adicionais tanto aos sobreviventes quanto aos novos animais introduzidos devido à competição por recursos como água e alimento.
O núcleo municipal dedicado ao atendimento à vida silvestre conta com apenas quatro servidores e necessita de apoio adicional para lidar com o aumento das ocorrências relacionadas aos animais afetados pelo incêndio.
A Secretaria de Agricultura do governo estadual informou que está elaborando um plano de recuperação para o local. Além disso, há um plano de prevenção a incêndios em desenvolvimento no Centro de Pesquisa em Bovinos de Corte do Instituto de Zootecnia, localizado na reserva e parcialmente destruído pelo fogo.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística adotou medidas emergenciais e preventivas, como o fechamento temporário de 81 unidades de conservação a partir do dia 1º de setembro. Segundo o órgão, essa medida tem se mostrado eficaz. Atualmente, existem cerca de 1 milhão de hectares sob proteção da secretaria, sendo que a área queimada representa pouco mais de 0,1%, conforme dados governamentais.
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